A primeira medida tomada por Deus para corrigir o erro dos Bene-Elohim foi enviar um Dilúvio ao mundo. Não queremos aqui discutir a abrangência de tal cataclismo, se foi universal ou local. Mas o fato é que Deus queria separar uma estirpe pura, que fosse preservada ao longo dos séculos, até que chegasse a plenitude dos tempos, e o Filho de Deus fosse enviado aos homens.
Antes de enviar o Dilúvio, Deus chamou a Noé, e o ordenou que lhe construísse uma arca. Qual foi o critério pelo qual Deus escolheu a Noé? Será que ele era perito em tecnologia náutica? Não. Será que ele era um homem perfeito? Não. Se fosse, não teria se embriagado e se exposto ao ridículo, como fez.
Há razões para crermos que os anjos rebeldes contaminaram, não apenas os seres humanos, mas também os animais. A serpente estava se alimentando do pó da terra, comprometendo geneticamente as criaturas de Deus (Gn.3:14). Lembremos que, tanto o homem, quanto os animais, provém do “pó da terra”, que é uma metáfora para células, e mais precisamente para genes (Gn.1:24; 2:7; Ec.3:18-20).
O texto declara enfaticamente que “a terra, porém, estava corrompida diante de Deus” (Gn.6:11). Por isso Deus anunciou: “Destruirei de sobre a face da terra o homem que criei, tanto o homem como o animal” (Gn.v.7).
Em meio a esta corrupção (não apenas moral, mas genética), Deus encontrou Noé que era “homem justo e íntegro em suas gerações”, e ainda por cima, “andava com Deus” (v.9). O texto original diz que Noé era puro em sua genealogia. Isto é, ele não havia sido contaminado pelo gene angélico. Por isso, Deus o escolheu para dar origem à estirpe que traria o Filho de Deus ao mundo.
Mesmo com a contaminação da raça humana pelo gene angélico e com a manipulação genética que resultou no surgimento de raças híbridas de animais, Deus resolveu não exterminá-los completamente.
Além de poupar a Noé e à sua família, Deus também quis poupar aos animais, mesmo àqueles que houvessem sido resultado de manipulação genética dos anjos. Entretanto, Deus ordenou a Noé que de cada animal limpo, levasse sete casais, mas dos animais impuros, apenas um casal (7:2).
É a primeira vez que surge na Bíblia a distinção entre animais limpos e impuros. Quando a Bíblia relata a criação dos animais, os distribui em várias categorias: selvagens, domésticos, aves, répteis, peixes. Não encontramos ali a categoria “impuros”.
De onde surgiu esta discriminação?
Há relatos que afirmam que os anjos manipularam geneticamente os animais, criando novas espécies. Creio que tais espécies foram consideradas impuras, por não serem resultado de tais manipulações.
Quando Deus outorgou a Lei, proibiu que tais animais fossem consumidos. E por quê? Porque poderiam, ao longo das gerações, causar algum comprometimento genético à estirpe pela qual Cristo viria ao mundo. É por isso que, depois que Cristo veio e cumpriu Sua missão redentora, tais proibições foram invalidadas.
Paulo expressou sua compreensão acerca disso, ao declarar: “O fim da Lei é Cristo” (Rm.10:4). Em outras palavras, o objetivo da Lei era Cristo. Tendo Cristo vindo ao mundo, já não haveria necessidade de certas precauções.
Era necessário que a estirpe pela qual Jesus viria, fosse preservada de qualquer contaminação genética, a fim de que Jesus fosse 100% Homem, tão puro geneticamente quanto Adão. As leis higiênicas e dietéticas tinham este objetivo.
Dentre os animais considerados impuros, o que mais chama a atenção é o porco. É interessante ressaltar a proximidade genética e morfológica entre o porco e o ser humano. Por isso, são cada vez mais comuns pontes de safena com tripas de porco, e transplantes de órgãos de porco para humanos.
Não seria o porco um produto de manipulação genética feita pelos anjos?
Se hoje há raças caninas resultantes de manipulação genética, por que não seria razoável supor que houvesse raças de animais resultantes de manipulação por parte dos anjos?
Talvez algumas figuras mitológicas, como o minotauro, metade homem, metade animal, tenham sido inspiradas nessas experiências.
Flavio Josefo, historiador judeu, conta que nos dias que antecederam a queda de Jerusalém, uma vaca deu à luz um cordeiro no Templo em plena festa da Páscoa. A glória de Deus já havia deixado aquele recinto outrora sagrado, e que agora estava entregue às hordas de Satanás.
Com o Dilúvio, a raça humana teria sido reduzida a um grupo de oito pessoas, a saber, Noé, sua esposa, seus três filhos e respectivas esposas.
Se o Dilúvio tenha como objetivo exterminar a raça híbrida, de onde teriam vindo os gigantes que aparecem nas páginas da Bíblia até os dias de Davi?
Há várias respostas possíveis:
Talvez uma das noras de Noé estivesse geneticamente comprometida, ou até grávida de um Nefilim.
Ou pode ter havido novas incursões angelicais ao mundo, e, conseqüentemente, novas experiências genéticas envolvendo seres humanos.
Parece que a segunda hipótese é mais plausível.
Depois do episódio que ficou conhecido como Torre de Babel, os homens foram distribuídos pelo mundo, e se organizaram em nações, e cada uma delas invocava seus próprios deuses.
A invocação a estes deuses deu-lhes liberdade para que voltassem a transitar entre os homens, e aqui proliferassem sua semente.
Mais uma vez a humanidade estava sendo contaminada pelo gene maligno.
Babel se tornou num portal para que os Bene-Elohim retornassem a terra.
Foi nesse ínterim que Deus chamou a Abraão.
Abraão representa um novo início. Deus lhe ordena a sair da terra dos Caldeus, onde florescia a civilização Suméria, para uma terra que ainda lhe seria mostrada.
O patriarca teve que romper com sua família, com sua herança cultural, e aventurar-se por uma terra desconhecida, e que posteriormente seria dada por herança à sua posteridade.
Como sabemos, Sara era estéril. Como poderia Deus cumprir o que prometera, se sua esposa é incapaz de conceber?
Acolhendo a idéia de sua própria esposa, Abraão tomou sua escrava Hagar, para que esta lhe desse um descendente. Porém, Deus não Se agradara de tal iniciativa. Hagar era egípcia, descendente de Cão, o filho de Noé que fora amaldiçoado; portanto, sua ascendência não era pura.
Abraão era semita, isto é, descendente de Sem, de quem Deus pretendia suscitar uma estirpe santa pela qual Seu Filho seria enviado ao mundo.
Abraão já tinha cem anos, e Sara, sua mulher, noventa anos. Além de ter sido estéril por toda a vida, “Sara havia cessado o costume das mulheres” (Gn.18:11). Ora, se Sara não ovulava mais, como ela poderia conceber?
O texto sagrado diz que “o Senhor visitou a Sara, como tinha dito, e lhe fez como havia prometido. Sara concebeu, e deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, de que Deus lhe falara” (Gn.21:1-2).
Não foi apenas um milagre feito à distância. O Senhor visitou a Sara!
O escritor de Hebreus diz que Sara “recebeu poder de conceber um filho, mesmo fora da idade” (Hb.11:11). Receber poder de conceber é o mesmo que receber um óvulo para que fosse fecundado pelo sêmen de Abraão. De onde veio esse óvulo? Terá sido produzido naturalmente pelos ovários de Sara? Absolutamente, não! Deus não restaurou seus ovários. Mas lhe deu “poder” para conceber.
O óvulo que fora colocado no ventre de Sara foi produzido pelo Espírito Santo, e inseminado por Deus.
Isaque foi gerado pelo Espírito Santo! Evidência bíblica? Em Gálatas 4:28-29, Paulo diz que Isaque “nasceu segundo o Espírito”.
Em sua concepção, Isaque teve o sêmen humano e o óvulo do Espírito; o inverso de Jesus, que teve o sêmen do Espírito fecundando o óvulo humano.
Isso não faria de Isaque um ser semelhante a Jesus? Não!
Foi necessário que Isaque fosse gerado desta maneira, para preparar geneticamente a estirpe de onde Jesus viria. De Isaque a Jesus foram 42 gerações, isto é: 7 x 6. Sete é o número que representa a divindade, enquanto seis representa a humanidade. Estas 42 gerações eram necessárias para que a humanidade fosse preparada para mesclar-se à divindade na Pessoa de Jesus.
A Humanidade nas mãos de tutores celestiais
Assim como há dois relatos da criação do homem (Gn.1:26-30; 2:4-25), é razoável considerar que haja também dois relatos da Queda. No caso da criação, o primeiro relato é resumido, e o segundo, mais detalhado. O mesmo se dá com respeito à Queda. O primeiro relato é alegórico, e o segundo é literal.
No primeiro, vemos que foi a mulher que, uma vez seduzida pela serpente, comeu do fruto que Deus havia proibido. Já no segundo relato, vemos que os seres angélicos, chamados ali de “filhos de Deus”, se engraçaram com as filhas dos homens, e as seduziram. Ambos os relatos demonstram um envolvimento entre o sexo feminino e uma espécie diferente do ser humano, chamada de “serpente” em Gênesis 3, e de “filhos de Deus” no capítulo 6.
Deus proibira o envolvimento da raça humana com aqueles seres celestiais que deixaram o seu domicílio para transitarem na Terra dos homens. Todo o conhecimento de que necessitasse, o homem deveria buscar diretamente na fonte, Cristo, a Árvore da Vida.
Mas a curiosidade foi maior. No princípio, apenas um contacto amigável, busca de conhecimento. Comer do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal significa exatamente isso: buscar conhecimento fora da fonte, contactando aqueles seres que Deus proibiu que os humanos contactassem.
Enoque diz que foram eles que ensinaram os homens a fabricar armas, a extrair metais da terra, a fazer feitiçarias, fabricar comésticos e etc. De repente, a humanidade deu um salto tecnológico. Os cientistas não conseguem entender como esse salto foi possível. Sem mais, nem menos, o homem deixa as cavernas, e o uso da pedra lascada, e começa a fabricar armas de metal.
Em que pese o fabuloso progresso experimentado pela humanidade, fruto do contacto com a raça celeste, o preço pago foi caríssimo.
Mesmo sendo senhor de tudo, o homem tornou-se como escravo.
Paulo fala sobre isso aos Gálatas:
“Digo que todo o tempo que o herdeiro é menino em nada difere do escravo, ainda que seja senhor de tudo. Ele está debaixo de tutores e curadores até o tempo determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão, debaixo dos rudimentos do mundo (...). Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses” (Gl.4:1-3,8).
Durante milênios, a humanidade esteve sob a tutela desses seres. Foram eles que se aproveitaram da ignorância dos humanos, para se fazerem deuses.
Estávamos entregues aos cuidados dos anjos, tanto dos que permaneceram fiéis a Deus, quanto dos que se rebelaram e se tornaram os ídolos das nações.
Foi por intermédio deles que Deus nos outorgou a Lei (Gl.3:19). Estévão deixa isso claro em seu caloroso discurso: “Vós, que recebestes a lei por ordenação de anjos, e não a guardastes” (At.7:53).
Os anjos fiéis, liderados por Miguel, ficaram responsáveis por Israel. Os anjos que se amotinaram ficaram responsáveis pelas demais nações, rateando-as entre eles. Foi assim que surgiram os ídolos das nações.
Se tudo se mantivesse como no início, as coisas não se complicariam tanto. O envolvimento entre os humanos e a raça celeste renderia outro capítulo na História da saga humana.
O envolvimento entre eles não ficou limitado ao plano do conhecimento do bem e do mal. Gênesis 6 nos revela que houve envolvimento sexual entre as duas espécies.
Embora o texto pareça indicar que o motivo que levou os anjos a se envolverem sexualmente com as mulheres foi a sua beleza, tenho razões para supor que o verdadeiro motivo foi tentar macular geneticamente a raça humana, e assim, impedir o nascimento de Cristo, profetizado em Gênesis 3.
Estas palavras foram proferidas por Deus à serpente. Aqui se prevê o nascimento de Cristo, e o surgimento de uma descendência maligna, resultante do envolvimento entre anjos e humanos.
Em momento algum Deus foi pego de surpresa.
Para que se cumprisse a profecia, e o propósito divino por trás dela, Deus permitiu que os anjos se acasalassem com mulheres, e engendrassem uma raça híbrida, chamada “Nefilim” (Os caídos).
Veja o que o texto diz:
“Como os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram (...). Havia naqueles dias gigantes na terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Estes foram os valentes, os homens de renome que houve na antigüidade” (Gn.6:1-2,4).
Ainda que os anjos que pecaram houvessem sido seduzidos pelas mulheres, Satanás aproveitou-se disso em causa própria.
O estrago estava feito! A raça humana foi geneticamente maculada. E para que Cristo fosse o redentor da humanidade, Ele teria que ser 100% Homem, sem qualquer comprometimento genético.
Como corrigir o estrago feito pelos Nefilins?
No primeiro, vemos que foi a mulher que, uma vez seduzida pela serpente, comeu do fruto que Deus havia proibido. Já no segundo relato, vemos que os seres angélicos, chamados ali de “filhos de Deus”, se engraçaram com as filhas dos homens, e as seduziram. Ambos os relatos demonstram um envolvimento entre o sexo feminino e uma espécie diferente do ser humano, chamada de “serpente” em Gênesis 3, e de “filhos de Deus” no capítulo 6.
Deus proibira o envolvimento da raça humana com aqueles seres celestiais que deixaram o seu domicílio para transitarem na Terra dos homens. Todo o conhecimento de que necessitasse, o homem deveria buscar diretamente na fonte, Cristo, a Árvore da Vida.
Mas a curiosidade foi maior. No princípio, apenas um contacto amigável, busca de conhecimento. Comer do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal significa exatamente isso: buscar conhecimento fora da fonte, contactando aqueles seres que Deus proibiu que os humanos contactassem.
Enoque diz que foram eles que ensinaram os homens a fabricar armas, a extrair metais da terra, a fazer feitiçarias, fabricar comésticos e etc. De repente, a humanidade deu um salto tecnológico. Os cientistas não conseguem entender como esse salto foi possível. Sem mais, nem menos, o homem deixa as cavernas, e o uso da pedra lascada, e começa a fabricar armas de metal.
Em que pese o fabuloso progresso experimentado pela humanidade, fruto do contacto com a raça celeste, o preço pago foi caríssimo.
Mesmo sendo senhor de tudo, o homem tornou-se como escravo.
Paulo fala sobre isso aos Gálatas:
“Digo que todo o tempo que o herdeiro é menino em nada difere do escravo, ainda que seja senhor de tudo. Ele está debaixo de tutores e curadores até o tempo determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão, debaixo dos rudimentos do mundo (...). Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses” (Gl.4:1-3,8).
Durante milênios, a humanidade esteve sob a tutela desses seres. Foram eles que se aproveitaram da ignorância dos humanos, para se fazerem deuses.
Estávamos entregues aos cuidados dos anjos, tanto dos que permaneceram fiéis a Deus, quanto dos que se rebelaram e se tornaram os ídolos das nações.
Foi por intermédio deles que Deus nos outorgou a Lei (Gl.3:19). Estévão deixa isso claro em seu caloroso discurso: “Vós, que recebestes a lei por ordenação de anjos, e não a guardastes” (At.7:53).
Os anjos fiéis, liderados por Miguel, ficaram responsáveis por Israel. Os anjos que se amotinaram ficaram responsáveis pelas demais nações, rateando-as entre eles. Foi assim que surgiram os ídolos das nações.
Se tudo se mantivesse como no início, as coisas não se complicariam tanto. O envolvimento entre os humanos e a raça celeste renderia outro capítulo na História da saga humana.
O envolvimento entre eles não ficou limitado ao plano do conhecimento do bem e do mal. Gênesis 6 nos revela que houve envolvimento sexual entre as duas espécies.
Embora o texto pareça indicar que o motivo que levou os anjos a se envolverem sexualmente com as mulheres foi a sua beleza, tenho razões para supor que o verdadeiro motivo foi tentar macular geneticamente a raça humana, e assim, impedir o nascimento de Cristo, profetizado em Gênesis 3.
“E porei inimizade entre ti a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn.3:15).
Estas palavras foram proferidas por Deus à serpente. Aqui se prevê o nascimento de Cristo, e o surgimento de uma descendência maligna, resultante do envolvimento entre anjos e humanos.
Em momento algum Deus foi pego de surpresa.
Para que se cumprisse a profecia, e o propósito divino por trás dela, Deus permitiu que os anjos se acasalassem com mulheres, e engendrassem uma raça híbrida, chamada “Nefilim” (Os caídos).
Veja o que o texto diz:
“Como os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram (...). Havia naqueles dias gigantes na terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Estes foram os valentes, os homens de renome que houve na antigüidade” (Gn.6:1-2,4).
Ainda que os anjos que pecaram houvessem sido seduzidos pelas mulheres, Satanás aproveitou-se disso em causa própria.
O estrago estava feito! A raça humana foi geneticamente maculada. E para que Cristo fosse o redentor da humanidade, Ele teria que ser 100% Homem, sem qualquer comprometimento genético.
Como corrigir o estrago feito pelos Nefilins?
Concílio dos "deuses" I
Antes de criar o homem, Deus cercou-Se de uma assembléia de seres, que formaram Sua corte celestial. Esses seres formaram a platéia que O assistira na criação da Terra e daquele que seria o seu regente.
“Onde estavas tu”, perguntou o Senhor a Jó, “quando eu lançava os fundamentos da terra? (...) quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam” (Jó 38:4a,7)? A expressão “filhos de Deus” é traduzida do hebraico Ben Elohim, que é usada no Antigo Testamento, exclusivamente para referir-se aos componentes da corte celestial.
Esses seres são às vezes chamados de anjos ( mal'akim, no hebraico e aggelos em grego)[1], e outras vezes de deuses (elohim), e ainda de Vigias ou Guardiãos (yir). Eles participavam ativamente na execução dos desígnios divinos:
“Bendizei ao Senhor, vós anjos seus, poderosos em força, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra! Bendizei ao Senhor, todos os seus exércitos celestiais, vós, ministros seus, que executais a sua vontade” (Sl.103:20-21).
Portanto, eles jamais podem receber os créditos por alguma de suas obras. Eles tão somente executam o que o Senhor lhes ordena. Razão pela qual eles não devem aceitar qualquer tipo de adoração. Quando João recebeu a visão registrada em Apocalipse, ele prostrou-se aos pés do anjo que se lhe apresentara, e foi de imediato repreendido: “Olha, não faças isso! Sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Ap.22:9).
Quando enviados a serviço, tais seres são malakim (malak, no singular), anjos mensageiros de Yahweh. Mas quando assentados na assembléia divina, são conhecidos como Ben Elohim, literalmente filhos da divindade. Só recebem a designação de filhos de Deus quando vistos em conjunto, integrando a corte celestial. Mas individualmente são apenas ministros de Yahweh. O único que pode ser chamado de Filho de Deus é Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus. Os crentes em Jesus são feitos filhos de Deus, por causa de sua união mística com Ele. Os anjos são chamados filhos de Deus por causa de sua posição elevada na corte celestial, e não por terem sido gerados por Deus. Eles foram criados, e não gerados. Isso fica claro em Hebreus, onde lemos a distinção clara entre Cristo e o anjos.
“O Filho é o resplendor da sua glória e a expressa imagem da sua pessoa, sustentando todas as coisas pela palvra do seu poder. Havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade nas alturas. Assim ele se tornou tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que o deles. Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho?” (Hb.1:3-5)
Não se pode comparar o Filho Eterno de Deus a qualquer outro ser angelical. Os anjos O adoram! “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl.1:15a). “Ninguém jamais viu a Deus” (1 Jo.4:12a). Nem mesmo os anjos[2]. Pois Ele “habita em luz inacessível” (1 Tm.6:16). Mas é o Seu Unigênito, “quem o revelou” (Jo.1:18b). Através da Encarnação, Deus Se fez visível, tanto aos homens, quanto aos anjos. Paulo chama isso de o “grande mistério da piedade”:
“Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória” (1 Tm.3:16).
Antes da Encarnação, o Verbo de Deus Se manifestava visivelmente através do que os teólogos chamam de Teofania. Daí, muitas vezes, encontrarmos a expressão “Anjo do Senhor” (Ou Malak de Yahweh). Era o único “anjo” que aceitava ser adorado.[3] Entretanto Deus jamais Se fez anjo. Tratava-se apenas de uma aparição momentânea. Mas na Encarnação, Deus Se faz Homem, assumindo não apenas a forma humana, como também a sua natureza.
Yahweh prometera a Moisés no Sinai: “Eu envio um anjo adiante de ti, para te guardar pelo caminho, e te levar ao lugar que te preparei. Guarda-te diante dele, e ouve a sua voz. Não te rebeles contra ele; ele não perdoará a vossa rebeldia, pois nele está o meu nome. Mas se diligentemente ouvires a sua voz, e fizeres tudo o que eu disser, então serei inimigo dos teus inimigos, e adversário dos teus adversários. O meu anjo irá adiante de ti” (Êx.23:20-23a).
Como podemos verificar neste texto, aquele “anjo” era o próprio Cristo, em quem estava o nome de Yahweh, e que Se manifestava visivelmente numa forma angelical. A voz do Anjo de Yahweh era a voz do próprio Deus.
E alguns dos filhos de Israel não apenas ouviram a voz do Senhor, como também O viram de longe. Não em Sua própria glória, mas numa glória desvanecente.
“E viram o Elohim de Israel. Debaixo dos seus pés havia como que uma calçada de pedra de safira que se parecia com o céu na sua claridade. Mas Elohim não estendeu a sua mão contra os escolhidos dos filhos de Israel; eles viram a Elohim, e comeram e beberam” (Êx.24:10-11).
Nesse texto, podemos identificar Elohim como uma alusão ao Anjo do Senhor, ou ao conjunto de anjos que se manifestaram no Monte Sinai. O termo Elohim, muitas vezes é usado para designar os Bene Elohim (Filhos de Deus/anjos).
É preferível crer que os filhos de Israel viram mesmo os Bene Elohim, e não propriamente o Anjo de Yahweh. Pois Este fora visto unicamente por Moisés, em outra ocasião, quando Lhe pediu: “Rogo-te que me mostres a tua glória” (Êx.33:18). Ainda sim, Moisés não pôde ver Sua face, mas tão somente Suas costas. Aquele não era o Deus Pai, mas o Verbo Divino, que em forma angelical, mostrou-Se a Moisés. A prova disso encontramos ao avançarmos no texto. “O Senhor desceu numa nuvem e, pondo-se ali junto a ele, proclamou o nome de Yahweh. Passando o Senhor perante Moisés, proclamou: Senhor, Senhor Deus misercicordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em beneficiência e verdade” (34:5-6). Não faria sentido algum o Senhor clamar a Si mesmo. Mas se entendemos que Aquele era Cristo, o Filho Eterno de Deus, numa Teofania angelical, então tudo se encaixa perfeitamente.
Moisés não apenas viu a glória de Yahweh, mas foi contagiado por ela, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar seus olhos nele, pois sua face resplandecia. Reportando-se a esse episódio, Paulo diz que aquela glória era desvanecente, isto é, passageira (ver 2 Co.3:7). A glória de Cristo, manifesta em forma angelical, era uma glória incompleta. Mas a glória que Ele recebeu do Pai, após a Sua Encarnação, morte e ressurreição, é uma glória inexcedível, permanente e incomparável. Ele recebeu do Pai a glória que tinha “antes que o mundo existisse” (Jo.17:5b). É essa glória que Ele promete nos revelar plenamente em Sua Vinda. A glória de Deus só pode ser plenamente vista “na face de Jesus Cristo” (2 Co.4:6b), o Deus Encarnado.
Quando chegarmos à Eternidade, nós não veremos o Pai, o Filho e o Espírito Santo de maneira distinta. Nós veremos a plenitude de Deus em Cristo. Nós O veremos tal qual Ele é, de Eternidade em Eternidade. Sua glória é tamanha, que nem mesmo os Serafins, criaturas mais chegadas ao Trono, podiam fitar-Lhe a face (Is.6). Quando João avistou Sua face, ele a descreveu “como o sol, quando resplandece na sua força” (Ap.1:16b). Todos os eleitos estão predestinados a desfrutar da mesma visão. E o que nos possibilitará vê-Lo no esplendor de Sua glória? João responde: “Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque assim como é, o veremos” (1 Jo.3:2b). Agora mesmo, o Espírito da Glória, que segundo Pedro, repousa sobre nós,[4] está nos conduzindo em um processo de transformação, conformando-nos à imagem de Cristo. Paulo diz que somos transformados de glória em glória (2 Co.3:18).
· O Parlamento Divino
Os Bene Elohim formam o supremo concílio celestial, uma espécie de parlamento divino. Micaías o descreve: “Vi o Senhor assentado sobre o seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua mão direita e à sua esquerda” (1 Reis 22:19b).
As hostes celestiais não apenas executam as ordens de Deus, como também Lhe prestam contas. Isso é verificado em Jó, onde lemos:
“Certo dia os Bene Elohim vieram apresentar-se perante o Yahweh, e veio também Satanás entre eles” (Jó 1:6).
Fica patente que esses seres não agem com autonomia. Até mesmo Satanás tinha que comparecer a essas assembléias, para prestar contas do que fazia sobre a Terra. Satanás não era um intruso na corte celestial. Ele fazia parte dela. Ele era um dos Bene Elohim.
Originalmente, Satanás figurava entre os príncipes do céu. A Bíblia afirma que ele era um Querubim Ungido. E como tal, estava sob as ordens diretas do Senhor.
Tudo corria bem, até que aquele Querubim (kerub), deixando-se dominar pela soberba, usurpou o trono de Yahweh.
Iniciou-se uma crise na Corte Celestial. Um dos principais Querubins reclamava o direito de ascender ao Trono do Universo, e governá-lo como Deus.
O Salmista refere-se a esta conspiração angelical, quando escreve:
“O Senhor reina (...) O teu trono está firme desde a antigüidade; tu existes desde a eternidade. Os mares levantaram, ó Deus, os mares levantaram a sua voz; os mares levantaram as suas ondas. O Senhor nas alturas é mais poderoso do que o ruído das grandes águas, mas poderoso do que as grandes ondas do mar” (Sl.93:1a,2-4).
O Salmo 89 se reporta ao mesmo episódio, e compara a rebelião de Satanás à ondas do mar, e o Querubim rebelde a Raabe, o monstro marinho:
“Pois quem no céu se pode igualar ao Senhor? Quem é semelhante ao Senhor entre os Bene Elohim? Deus é tremendamente temido na assembléia dos santos; grandemente reverenciado por todos os que o cercam. Ó Senhor, Deus dos Exércitos, quem é forte como tu? Tu és poderoso, ó Senhor, e a tua fidelidade está ao redor de Ti. Tu dominas o ímpeto do mar; quando as suas ondas se levantam, tu as fazes aquietar. Tu quebrantaste a Raabe como um ferido de morte; espalhaste os teus inimigos com o teu poderoso braço” (Sl.89:6-10).
Alguns comentaristas bíblicos acreditam que o motivo da revolta de Satanás foi a criação do homem. Ele não podia admitir que um ser inferior a ele, deveria ser servido pelos anjos. Em seu raciocínio, era inadmissível que aquela raça inferior fora escolhida para receber o domínio sobre todas as obras do Criador. Alguns textos apócrifos apontam para isso. E a própria Bíblia parece confirmar isso.
Em Hebreus lemos que “não foi aos anjos que Deus sujeitou o mundo vindouro, de que falamos. Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? Fizeste-o um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e o constituíste sobre as obras de tuas mãos. Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés” (Hb.2:5-8a).
Como uma criatura tão pequena, feita de barro, poderia receber tamanha glória. Talvez fosse essa a reivindicação do Querubim.
E o pior de tudo é que o próprio Criador assumiria a natureza humana, e quando fosse introduzido no mundo como Homem, todos os anjos deveriam adorá-Lo (Hb.1:6). Nada parecia mais humilhante do que isso.
Enquanto os anjos são chamados “labaredas de fogo” (algo que se extingüe), do Deus-Homem se diz: “Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos” (Hb.1:7-8). Com a criação daquela nova raça (humana), os anjos deixariam de ser os “deuses”, para serem “espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb.1:14).
Em sua rebelião, Raabe, a serpente deslizante, logrou êxito em arrastar consigo a terça parte das hostes celestiais.
É interessante a comparação entre a rebelião promovida por Satanás, e as ondas furisoas do mar revolto.
As “águas” são uma figura de linguagem que representa os mundos habitados criados por Deus. Em algumas passagens, elas são sinônimo de “abismo”, e apontam para o espaço sideral. De acordo com Gênesis, as águas produziram seres viventes antes mesmo que a terra (Gn.1:20,24). Elas representam o ambiente propício e indispensável à vida. O que nos leva a crer que havia outras formas de vida no Universo, antes mesmo que houvesse vida na terra. Essas formas de vida eram as hostes celestiais, que habitavam outros mundos criados por Deus.
Logo no início, o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas (abismo). Em outras palavras, o Espírito Santo envolvia todo o Cosmos, como um pássaro que choca seus ovos. Tão logo fez a luz, disse Deus: “Haja um firmamento no meio das águas, e haja separação entre águas e águas” (Gn.1:6). A partir daí, fala-se de “águas que estavam debaixo do firmamento”, e de “águas que estavam por cima do firmamento” (v.7). Houve uma separação entre elas. O próprio Deus estabeleu os seus limites. “Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos celestiais. Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. Louvai-o, céus dos céus, e as águas que estão sobre os céus” (Sl.148:2-4). Perceba a conexão entre os exércitos celestiais e as águas que estão sobre os céus.
Em Sua resposta à Jó, o Senhor argüiu: “Quem encerrou o mar com portas (...) quando fiz limites para ele, pondo-lhe portas e ferrolhos, quando eu disse: Até aqui virás, e não mais adiante; aqui se quebrarão as tuas orgulhosas ondas” (Jó 38:8a,10-11)?
Deus não apenas separou as águas, mas ordenou que elas não se misturassem. Os seres de outros mundos não deveriam deixar seu domicílio, para interferir no novo ecossistema que Deus havia acabado de criar.
Eles poderiam assistir, mas não interferir. Era o próprio Deus, em pessoa, quem cuidaria de Sua nova criatura. Por isso lemos que Deus “passeava no jardim pela viração do dia”, para conversar com o homem (Gn.3:8).
Um pouco mais adiante lemos: “E disse Deus: Produzam as águas enxames de seres viventes (...) Criou, pois, Deus os monstros marinhos, e todos os seres viventes que se arrastavam (dos quais a serpente é um), os quais as águas produziram abundantemente segundo as suas espécies” (v.20-21). Podemos fazer uma leitura literal, ao mesmo tempo em que fazemos uma leitura figurativa. Uma interpretação não desfaz a outra. Os monstros marinhos de que o texto fala são uma representação de Satanás e os anjos que o seguiram. Em algumas passagens ele é chamado de Raabe e Leviatã. Confira os textos abaixo:
“As colunas do céu tremem, e se espantam da sua ameaça. Com a sua força fendeu o mar; com o seu entendimento abateu a Raabe. Pelo seu sopro os céus se aclararam; a sua mão trespassou a serpente veloz. E isto são apenas as orlas dos seus caminhos; quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem entenderia o trovão do seu poder?” (Jó 26:11-14).
“Todavia, Deus é o meu Rei desde a antigúidade, operando a salvação no meio da terra. Tu dividiste o mar pela tua força; quebraste as cabeças dos monstros nas águas. Fizeste em pedaços as cabeças do Leviatã, e o deste por alimento aos animais do deserto” (Sl.74:12-14).
“Naquele dia o Senhor castigará com a sua espada, a sua grande e forte espada, o Leviatã, a serpente veloz, e o Leviatã, a serpente deslizante, e matará o dragão que está no mar” (Is.27:1).
“Desperta, desperta! Veste-te de força, ó braço do Senhor; desperta como nos dias passados, como nas gerações antigas. Não foste tu que cortates em pedaços a Raabe, e trespassastes ao dragão?” (Is.51:9).
Raabe, Leviatã, Dragão, ou simplesmente “a antiga serpente” são exatamente a mesma coisa. Satanás é o Dragão, o monstro marinho que agita os mares, e faz levantar as suas ondas contra o Senhor. O mar agitado representa os anjos ímpios, que aderiram à rebelião do Diabo. Isaías diz que “os ímpios são como o mar agitado; pois não pode estar quieto, e as suas águas lançam de si lama e lodo” (Is.57:20). O sábio Salomão afirma que “o princípio da contenda é como o soltar de águas represadas” (Pv.17:14). E Judas, comparando alguns crentes impostores que haviam adentrado a igreja, com os anjos que se rebelaram, diz que esses “são ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido eternamente reservada a escuridão das trevas” (Jd.13).
O livro de Jó, não obstante seja uma história verídicta, também pode ser visto como uma alegoria para a trama que se desenrola no Universo, envolvendo Deus, o homem e Satanás. Como quem queria dar uma lição moral no Querubim rebelde, o Senhor lhe perguntou: “Observaste a meu servo Jó? Não há ninguém na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal” (Jó 1:8). Bastou isso para que Satanás, atrevidamente, lança-se uma acusação contra Deus: “Acaso não o tens protegido de todos os lados a ele, a sua casa e atudo o que tem? A obra das suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplacam na terra. Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo o que tem, e ele certamente blasfemará de ti na tua face!" (Jó 1:10-11). A justiça de Deus foi questionada, em plena assembléia dos Bene Elohim. Satanás acusou a Deus de comprar a fidelidade do homem com Sua benesses. Ao mesmo tempo, Satanás acusou o homem de ser fiel a Deus por interesse. Para que ficasse provado que Satanás estava errado, e que suas reivindicações eram injutas, Deus permitiu que ele tentasse a Jó, privando-o de tudo o que o Senhor lhe dera. O fim dessa história, todos conhecemos. Satanás foi desmascarado, a justiça divina manteve-se intacta.
Algo semelhante aconteceu no início da saga humana, envolvendo Deus, o Diabo, e o primeiro homem.
O Senhor permitiu que aquela serpente entrasse no Jardim do Éden, e colocasse o homem à prova.
As Duas Árvores
As Escrituras dizem que havia duas árvores importantes naquele Jardim de Delícias: a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Precisamos estar abertos para o significado simbólico por trás dessas figuras. Ainda que insistamos numa leitura literal, essa, porém, não nos impede de enxergar um pouco além da letra. A Árvore da Vida é uma figura de Cristo. Foi Ele mesmo quem disse: “Eu sou a Videira Verdadeira” (Jo.15:1). Em outras palavras: Eu sou a verdadeira Árvore da Vida. Não há outra “árvore da vida”senão Cristo. É ingênuo crer que haja uma árvore literal no céu, da qual teremos que comer, para termos vida eterna. Cristo, a sabedoria eterna, é a Árvore da Vida. O sábio Salomão já sabia disso, quando escreveu: “Bem-aventurado o homem que encontra sabedoria (...) É árvore da vida para os que a abraçam” (Pv.3:13a,18a). João testifica disso: “Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho”(1 Jo.5:11). Era a comunhão que o primeiro homem tinha com Deus, por meio de Cristo, que lhe garantia a vida eterna. “Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens”(Jo.1:2-4). Era a comunhão com Ele, que possibilitava aos primeiros pais, desfrutarem a vida eterna. Aquela Árvore da Vida que estava no centro do Jardim, era ninguém menos que o próprio Cristo. E Ele mesmo diz: “Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa”(Jo.6:57).
Ora, se a Árvore da Vida é uma figura, temos que concluir que a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal também o é.
O que representaria tal misteriosa árvore?
Encontramos uma pista no livro do Profeta Ezequiel. É o Senhor quem braveja: “A quem és semelhante em glória e em grandeza entre as árvores do Éden? Todavia descerás com as árvores do Éden às partes inferiores da terra; no meio dos incircuncisos jazerás com os que foram mortos à espada. Este é Faraó e toda a sua multidão, diz o Senhor Deus”(Ez.31:18). Nesse mesmo texto lemos: “Formoso o fiz com a multidão dos seus ramos; todas as árvores do Éden, que estavam no jardim de Deus, tiveram inveja dele. Portanto assim diz o Senhor Deus: Como se elevou na sua estatura, e se levantou a sua copa no meio dos espessos ramos, e o seu coração se exaltou na sua altura, eu o entreguei na mão da mais poderosa das nações, que lhe deu o tratamento merecido. Pela usa impiedade o lancei fora” (vs.9-11). Observe quantos paralelos entre essa passagem e Ezequiel 28. A diferença entre elas é que nessa, Deus usa Faraó como um tipo de Satanás, enquanto no capítulo 28, ele usa o rei de Tiro. E o texto prossegue no capítulo 32: “Filho do homem, levanta uma lamentação sobre Faraó, rei do Egito, e dize-lhe: Eras semelhante a um filho de leão entre as nações, e tu foste como um dragão nos mares, e ferias os teus rios, e turbavas as águas com os teus pés, e sujavas os teus rios” (v.2). Fica claro que Deus está falando de Satanás, o dragão, o Leviatã, a serpente deslizante.
Na passagem que consideramos acima, o Egito, figura de Satanás, é apresentado como uma das árvores do Éden. Mas não é uma árvore qualquer. Sua altura e imponência é visível à distância, de maneira que ela chama a atenção para si.
Em Daniel 4, é a Babilônia que é apresentada como uma árvore frondosa, “que se fazia forte, de maneira que a sua altura chegava até o céu, e era visível até os confins da terra. A sua folhagem era formosa, e o seu fruto abundante, e havia nela sustento para todos; debaixo dela os animais do campo achavam sombra, as aves do céu faziam morada nos seus ramos, e todos os seres viventes se mantinham dela” (Dn.4:11-12).
Repare que o Egito e a Babilônia são dois reinos, duas nações diferentes, mas que num certo espaço de tempo, dominaram o mundo.
Jesus compara o Reino dos céus “ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a mais pequena de todas as sementes, contudo, quando cresce, é maior do que as hortaliças, e se transforma em árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se anihham nos seus ramos”(Mt.13:31-32).
Portanto, podemos inferir que a árvore do bem e do mal representa um reino. Mas que reino é esse? O reino angelical. Embora Deus houvesse permitido que os Bene Elohim transitassem na Terra, não era permitido ao homem estabelecer qualquer relacionamento com eles. Lembre-se que aquela árvore era do bem e do mal. O que aponta para o fato de que a esta altura, a corte celestial já estava dividida entre os anjos fiéis a Deus, e os rebeldes.
Deus queria tratar diretamente com o homem, sem a intermediação de qualquer outra criatura. A Árvore da Vida deveria ser a fonte, não apenas da vida, mas de todo o conhecimento de que o homem necessitasse. Mas certos anjos “deixaram o seu domicílio”, e travaram contacto com a raça humana. Em vez de o homem ressachar a velha serpente, preferiu dar-lhe ouvido.
Após ter comido daquele fruto proibido, o homem caiu de sua condição original, e um abismo se abriu entre ele e seu Criador. A partir daí, os anjos passaram a transitar livremente pela terra.
Continua...
[1] O termo mal’ak aparece 214 vezes no Antigo Testamento, enquanto aggelo aparece 186 vezes no Novo Testamento.
[2] Convém salientar que o verso em que Jesus diz que os anjos nos céus sempre vêem a face do Pai (Mt.18:10), poderia ser traduzido como “sempre estão diante” de Sua face. A palavra traduzida como “vêem” é blopo, que pode significar também “estar diante de”.
[3] Um exemplo disso encontramos em Juízes 13
[4] 1 Pedro 4:14
“Onde estavas tu”, perguntou o Senhor a Jó, “quando eu lançava os fundamentos da terra? (...) quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam” (Jó 38:4a,7)? A expressão “filhos de Deus” é traduzida do hebraico Ben Elohim, que é usada no Antigo Testamento, exclusivamente para referir-se aos componentes da corte celestial.
Esses seres são às vezes chamados de anjos ( mal'akim, no hebraico e aggelos em grego)[1], e outras vezes de deuses (elohim), e ainda de Vigias ou Guardiãos (yir). Eles participavam ativamente na execução dos desígnios divinos:
“Bendizei ao Senhor, vós anjos seus, poderosos em força, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra! Bendizei ao Senhor, todos os seus exércitos celestiais, vós, ministros seus, que executais a sua vontade” (Sl.103:20-21).
Portanto, eles jamais podem receber os créditos por alguma de suas obras. Eles tão somente executam o que o Senhor lhes ordena. Razão pela qual eles não devem aceitar qualquer tipo de adoração. Quando João recebeu a visão registrada em Apocalipse, ele prostrou-se aos pés do anjo que se lhe apresentara, e foi de imediato repreendido: “Olha, não faças isso! Sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Ap.22:9).
Quando enviados a serviço, tais seres são malakim (malak, no singular), anjos mensageiros de Yahweh. Mas quando assentados na assembléia divina, são conhecidos como Ben Elohim, literalmente filhos da divindade. Só recebem a designação de filhos de Deus quando vistos em conjunto, integrando a corte celestial. Mas individualmente são apenas ministros de Yahweh. O único que pode ser chamado de Filho de Deus é Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus. Os crentes em Jesus são feitos filhos de Deus, por causa de sua união mística com Ele. Os anjos são chamados filhos de Deus por causa de sua posição elevada na corte celestial, e não por terem sido gerados por Deus. Eles foram criados, e não gerados. Isso fica claro em Hebreus, onde lemos a distinção clara entre Cristo e o anjos.
“O Filho é o resplendor da sua glória e a expressa imagem da sua pessoa, sustentando todas as coisas pela palvra do seu poder. Havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade nas alturas. Assim ele se tornou tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que o deles. Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho?” (Hb.1:3-5)
Não se pode comparar o Filho Eterno de Deus a qualquer outro ser angelical. Os anjos O adoram! “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl.1:15a). “Ninguém jamais viu a Deus” (1 Jo.4:12a). Nem mesmo os anjos[2]. Pois Ele “habita em luz inacessível” (1 Tm.6:16). Mas é o Seu Unigênito, “quem o revelou” (Jo.1:18b). Através da Encarnação, Deus Se fez visível, tanto aos homens, quanto aos anjos. Paulo chama isso de o “grande mistério da piedade”:
“Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória” (1 Tm.3:16).
Antes da Encarnação, o Verbo de Deus Se manifestava visivelmente através do que os teólogos chamam de Teofania. Daí, muitas vezes, encontrarmos a expressão “Anjo do Senhor” (Ou Malak de Yahweh). Era o único “anjo” que aceitava ser adorado.[3] Entretanto Deus jamais Se fez anjo. Tratava-se apenas de uma aparição momentânea. Mas na Encarnação, Deus Se faz Homem, assumindo não apenas a forma humana, como também a sua natureza.
Yahweh prometera a Moisés no Sinai: “Eu envio um anjo adiante de ti, para te guardar pelo caminho, e te levar ao lugar que te preparei. Guarda-te diante dele, e ouve a sua voz. Não te rebeles contra ele; ele não perdoará a vossa rebeldia, pois nele está o meu nome. Mas se diligentemente ouvires a sua voz, e fizeres tudo o que eu disser, então serei inimigo dos teus inimigos, e adversário dos teus adversários. O meu anjo irá adiante de ti” (Êx.23:20-23a).
Como podemos verificar neste texto, aquele “anjo” era o próprio Cristo, em quem estava o nome de Yahweh, e que Se manifestava visivelmente numa forma angelical. A voz do Anjo de Yahweh era a voz do próprio Deus.
E alguns dos filhos de Israel não apenas ouviram a voz do Senhor, como também O viram de longe. Não em Sua própria glória, mas numa glória desvanecente.
“E viram o Elohim de Israel. Debaixo dos seus pés havia como que uma calçada de pedra de safira que se parecia com o céu na sua claridade. Mas Elohim não estendeu a sua mão contra os escolhidos dos filhos de Israel; eles viram a Elohim, e comeram e beberam” (Êx.24:10-11).
Nesse texto, podemos identificar Elohim como uma alusão ao Anjo do Senhor, ou ao conjunto de anjos que se manifestaram no Monte Sinai. O termo Elohim, muitas vezes é usado para designar os Bene Elohim (Filhos de Deus/anjos).
É preferível crer que os filhos de Israel viram mesmo os Bene Elohim, e não propriamente o Anjo de Yahweh. Pois Este fora visto unicamente por Moisés, em outra ocasião, quando Lhe pediu: “Rogo-te que me mostres a tua glória” (Êx.33:18). Ainda sim, Moisés não pôde ver Sua face, mas tão somente Suas costas. Aquele não era o Deus Pai, mas o Verbo Divino, que em forma angelical, mostrou-Se a Moisés. A prova disso encontramos ao avançarmos no texto. “O Senhor desceu numa nuvem e, pondo-se ali junto a ele, proclamou o nome de Yahweh. Passando o Senhor perante Moisés, proclamou: Senhor, Senhor Deus misercicordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em beneficiência e verdade” (34:5-6). Não faria sentido algum o Senhor clamar a Si mesmo. Mas se entendemos que Aquele era Cristo, o Filho Eterno de Deus, numa Teofania angelical, então tudo se encaixa perfeitamente.
Moisés não apenas viu a glória de Yahweh, mas foi contagiado por ela, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar seus olhos nele, pois sua face resplandecia. Reportando-se a esse episódio, Paulo diz que aquela glória era desvanecente, isto é, passageira (ver 2 Co.3:7). A glória de Cristo, manifesta em forma angelical, era uma glória incompleta. Mas a glória que Ele recebeu do Pai, após a Sua Encarnação, morte e ressurreição, é uma glória inexcedível, permanente e incomparável. Ele recebeu do Pai a glória que tinha “antes que o mundo existisse” (Jo.17:5b). É essa glória que Ele promete nos revelar plenamente em Sua Vinda. A glória de Deus só pode ser plenamente vista “na face de Jesus Cristo” (2 Co.4:6b), o Deus Encarnado.
Quando chegarmos à Eternidade, nós não veremos o Pai, o Filho e o Espírito Santo de maneira distinta. Nós veremos a plenitude de Deus em Cristo. Nós O veremos tal qual Ele é, de Eternidade em Eternidade. Sua glória é tamanha, que nem mesmo os Serafins, criaturas mais chegadas ao Trono, podiam fitar-Lhe a face (Is.6). Quando João avistou Sua face, ele a descreveu “como o sol, quando resplandece na sua força” (Ap.1:16b). Todos os eleitos estão predestinados a desfrutar da mesma visão. E o que nos possibilitará vê-Lo no esplendor de Sua glória? João responde: “Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque assim como é, o veremos” (1 Jo.3:2b). Agora mesmo, o Espírito da Glória, que segundo Pedro, repousa sobre nós,[4] está nos conduzindo em um processo de transformação, conformando-nos à imagem de Cristo. Paulo diz que somos transformados de glória em glória (2 Co.3:18).
· O Parlamento Divino
Os Bene Elohim formam o supremo concílio celestial, uma espécie de parlamento divino. Micaías o descreve: “Vi o Senhor assentado sobre o seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua mão direita e à sua esquerda” (1 Reis 22:19b).
As hostes celestiais não apenas executam as ordens de Deus, como também Lhe prestam contas. Isso é verificado em Jó, onde lemos:
“Certo dia os Bene Elohim vieram apresentar-se perante o Yahweh, e veio também Satanás entre eles” (Jó 1:6).
Fica patente que esses seres não agem com autonomia. Até mesmo Satanás tinha que comparecer a essas assembléias, para prestar contas do que fazia sobre a Terra. Satanás não era um intruso na corte celestial. Ele fazia parte dela. Ele era um dos Bene Elohim.
Originalmente, Satanás figurava entre os príncipes do céu. A Bíblia afirma que ele era um Querubim Ungido. E como tal, estava sob as ordens diretas do Senhor.
Tudo corria bem, até que aquele Querubim (kerub), deixando-se dominar pela soberba, usurpou o trono de Yahweh.
Iniciou-se uma crise na Corte Celestial. Um dos principais Querubins reclamava o direito de ascender ao Trono do Universo, e governá-lo como Deus.
O Salmista refere-se a esta conspiração angelical, quando escreve:
“O Senhor reina (...) O teu trono está firme desde a antigüidade; tu existes desde a eternidade. Os mares levantaram, ó Deus, os mares levantaram a sua voz; os mares levantaram as suas ondas. O Senhor nas alturas é mais poderoso do que o ruído das grandes águas, mas poderoso do que as grandes ondas do mar” (Sl.93:1a,2-4).
O Salmo 89 se reporta ao mesmo episódio, e compara a rebelião de Satanás à ondas do mar, e o Querubim rebelde a Raabe, o monstro marinho:
“Pois quem no céu se pode igualar ao Senhor? Quem é semelhante ao Senhor entre os Bene Elohim? Deus é tremendamente temido na assembléia dos santos; grandemente reverenciado por todos os que o cercam. Ó Senhor, Deus dos Exércitos, quem é forte como tu? Tu és poderoso, ó Senhor, e a tua fidelidade está ao redor de Ti. Tu dominas o ímpeto do mar; quando as suas ondas se levantam, tu as fazes aquietar. Tu quebrantaste a Raabe como um ferido de morte; espalhaste os teus inimigos com o teu poderoso braço” (Sl.89:6-10).
Alguns comentaristas bíblicos acreditam que o motivo da revolta de Satanás foi a criação do homem. Ele não podia admitir que um ser inferior a ele, deveria ser servido pelos anjos. Em seu raciocínio, era inadmissível que aquela raça inferior fora escolhida para receber o domínio sobre todas as obras do Criador. Alguns textos apócrifos apontam para isso. E a própria Bíblia parece confirmar isso.
Em Hebreus lemos que “não foi aos anjos que Deus sujeitou o mundo vindouro, de que falamos. Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? Fizeste-o um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e o constituíste sobre as obras de tuas mãos. Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés” (Hb.2:5-8a).
Como uma criatura tão pequena, feita de barro, poderia receber tamanha glória. Talvez fosse essa a reivindicação do Querubim.
E o pior de tudo é que o próprio Criador assumiria a natureza humana, e quando fosse introduzido no mundo como Homem, todos os anjos deveriam adorá-Lo (Hb.1:6). Nada parecia mais humilhante do que isso.
Enquanto os anjos são chamados “labaredas de fogo” (algo que se extingüe), do Deus-Homem se diz: “Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos” (Hb.1:7-8). Com a criação daquela nova raça (humana), os anjos deixariam de ser os “deuses”, para serem “espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb.1:14).
Em sua rebelião, Raabe, a serpente deslizante, logrou êxito em arrastar consigo a terça parte das hostes celestiais.
É interessante a comparação entre a rebelião promovida por Satanás, e as ondas furisoas do mar revolto.
As “águas” são uma figura de linguagem que representa os mundos habitados criados por Deus. Em algumas passagens, elas são sinônimo de “abismo”, e apontam para o espaço sideral. De acordo com Gênesis, as águas produziram seres viventes antes mesmo que a terra (Gn.1:20,24). Elas representam o ambiente propício e indispensável à vida. O que nos leva a crer que havia outras formas de vida no Universo, antes mesmo que houvesse vida na terra. Essas formas de vida eram as hostes celestiais, que habitavam outros mundos criados por Deus.
Logo no início, o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas (abismo). Em outras palavras, o Espírito Santo envolvia todo o Cosmos, como um pássaro que choca seus ovos. Tão logo fez a luz, disse Deus: “Haja um firmamento no meio das águas, e haja separação entre águas e águas” (Gn.1:6). A partir daí, fala-se de “águas que estavam debaixo do firmamento”, e de “águas que estavam por cima do firmamento” (v.7). Houve uma separação entre elas. O próprio Deus estabeleu os seus limites. “Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos celestiais. Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes. Louvai-o, céus dos céus, e as águas que estão sobre os céus” (Sl.148:2-4). Perceba a conexão entre os exércitos celestiais e as águas que estão sobre os céus.
Em Sua resposta à Jó, o Senhor argüiu: “Quem encerrou o mar com portas (...) quando fiz limites para ele, pondo-lhe portas e ferrolhos, quando eu disse: Até aqui virás, e não mais adiante; aqui se quebrarão as tuas orgulhosas ondas” (Jó 38:8a,10-11)?
Deus não apenas separou as águas, mas ordenou que elas não se misturassem. Os seres de outros mundos não deveriam deixar seu domicílio, para interferir no novo ecossistema que Deus havia acabado de criar.
Eles poderiam assistir, mas não interferir. Era o próprio Deus, em pessoa, quem cuidaria de Sua nova criatura. Por isso lemos que Deus “passeava no jardim pela viração do dia”, para conversar com o homem (Gn.3:8).
Um pouco mais adiante lemos: “E disse Deus: Produzam as águas enxames de seres viventes (...) Criou, pois, Deus os monstros marinhos, e todos os seres viventes que se arrastavam (dos quais a serpente é um), os quais as águas produziram abundantemente segundo as suas espécies” (v.20-21). Podemos fazer uma leitura literal, ao mesmo tempo em que fazemos uma leitura figurativa. Uma interpretação não desfaz a outra. Os monstros marinhos de que o texto fala são uma representação de Satanás e os anjos que o seguiram. Em algumas passagens ele é chamado de Raabe e Leviatã. Confira os textos abaixo:
“As colunas do céu tremem, e se espantam da sua ameaça. Com a sua força fendeu o mar; com o seu entendimento abateu a Raabe. Pelo seu sopro os céus se aclararam; a sua mão trespassou a serpente veloz. E isto são apenas as orlas dos seus caminhos; quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem entenderia o trovão do seu poder?” (Jó 26:11-14).
“Todavia, Deus é o meu Rei desde a antigúidade, operando a salvação no meio da terra. Tu dividiste o mar pela tua força; quebraste as cabeças dos monstros nas águas. Fizeste em pedaços as cabeças do Leviatã, e o deste por alimento aos animais do deserto” (Sl.74:12-14).
“Naquele dia o Senhor castigará com a sua espada, a sua grande e forte espada, o Leviatã, a serpente veloz, e o Leviatã, a serpente deslizante, e matará o dragão que está no mar” (Is.27:1).
“Desperta, desperta! Veste-te de força, ó braço do Senhor; desperta como nos dias passados, como nas gerações antigas. Não foste tu que cortates em pedaços a Raabe, e trespassastes ao dragão?” (Is.51:9).
Raabe, Leviatã, Dragão, ou simplesmente “a antiga serpente” são exatamente a mesma coisa. Satanás é o Dragão, o monstro marinho que agita os mares, e faz levantar as suas ondas contra o Senhor. O mar agitado representa os anjos ímpios, que aderiram à rebelião do Diabo. Isaías diz que “os ímpios são como o mar agitado; pois não pode estar quieto, e as suas águas lançam de si lama e lodo” (Is.57:20). O sábio Salomão afirma que “o princípio da contenda é como o soltar de águas represadas” (Pv.17:14). E Judas, comparando alguns crentes impostores que haviam adentrado a igreja, com os anjos que se rebelaram, diz que esses “são ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido eternamente reservada a escuridão das trevas” (Jd.13).
O livro de Jó, não obstante seja uma história verídicta, também pode ser visto como uma alegoria para a trama que se desenrola no Universo, envolvendo Deus, o homem e Satanás. Como quem queria dar uma lição moral no Querubim rebelde, o Senhor lhe perguntou: “Observaste a meu servo Jó? Não há ninguém na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal” (Jó 1:8). Bastou isso para que Satanás, atrevidamente, lança-se uma acusação contra Deus: “Acaso não o tens protegido de todos os lados a ele, a sua casa e atudo o que tem? A obra das suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplacam na terra. Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo o que tem, e ele certamente blasfemará de ti na tua face!" (Jó 1:10-11). A justiça de Deus foi questionada, em plena assembléia dos Bene Elohim. Satanás acusou a Deus de comprar a fidelidade do homem com Sua benesses. Ao mesmo tempo, Satanás acusou o homem de ser fiel a Deus por interesse. Para que ficasse provado que Satanás estava errado, e que suas reivindicações eram injutas, Deus permitiu que ele tentasse a Jó, privando-o de tudo o que o Senhor lhe dera. O fim dessa história, todos conhecemos. Satanás foi desmascarado, a justiça divina manteve-se intacta.
Algo semelhante aconteceu no início da saga humana, envolvendo Deus, o Diabo, e o primeiro homem.
O Senhor permitiu que aquela serpente entrasse no Jardim do Éden, e colocasse o homem à prova.
As Duas Árvores
As Escrituras dizem que havia duas árvores importantes naquele Jardim de Delícias: a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Precisamos estar abertos para o significado simbólico por trás dessas figuras. Ainda que insistamos numa leitura literal, essa, porém, não nos impede de enxergar um pouco além da letra. A Árvore da Vida é uma figura de Cristo. Foi Ele mesmo quem disse: “Eu sou a Videira Verdadeira” (Jo.15:1). Em outras palavras: Eu sou a verdadeira Árvore da Vida. Não há outra “árvore da vida”senão Cristo. É ingênuo crer que haja uma árvore literal no céu, da qual teremos que comer, para termos vida eterna. Cristo, a sabedoria eterna, é a Árvore da Vida. O sábio Salomão já sabia disso, quando escreveu: “Bem-aventurado o homem que encontra sabedoria (...) É árvore da vida para os que a abraçam” (Pv.3:13a,18a). João testifica disso: “Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho”(1 Jo.5:11). Era a comunhão que o primeiro homem tinha com Deus, por meio de Cristo, que lhe garantia a vida eterna. “Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens”(Jo.1:2-4). Era a comunhão com Ele, que possibilitava aos primeiros pais, desfrutarem a vida eterna. Aquela Árvore da Vida que estava no centro do Jardim, era ninguém menos que o próprio Cristo. E Ele mesmo diz: “Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa”(Jo.6:57).
Ora, se a Árvore da Vida é uma figura, temos que concluir que a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal também o é.
O que representaria tal misteriosa árvore?
Encontramos uma pista no livro do Profeta Ezequiel. É o Senhor quem braveja: “A quem és semelhante em glória e em grandeza entre as árvores do Éden? Todavia descerás com as árvores do Éden às partes inferiores da terra; no meio dos incircuncisos jazerás com os que foram mortos à espada. Este é Faraó e toda a sua multidão, diz o Senhor Deus”(Ez.31:18). Nesse mesmo texto lemos: “Formoso o fiz com a multidão dos seus ramos; todas as árvores do Éden, que estavam no jardim de Deus, tiveram inveja dele. Portanto assim diz o Senhor Deus: Como se elevou na sua estatura, e se levantou a sua copa no meio dos espessos ramos, e o seu coração se exaltou na sua altura, eu o entreguei na mão da mais poderosa das nações, que lhe deu o tratamento merecido. Pela usa impiedade o lancei fora” (vs.9-11). Observe quantos paralelos entre essa passagem e Ezequiel 28. A diferença entre elas é que nessa, Deus usa Faraó como um tipo de Satanás, enquanto no capítulo 28, ele usa o rei de Tiro. E o texto prossegue no capítulo 32: “Filho do homem, levanta uma lamentação sobre Faraó, rei do Egito, e dize-lhe: Eras semelhante a um filho de leão entre as nações, e tu foste como um dragão nos mares, e ferias os teus rios, e turbavas as águas com os teus pés, e sujavas os teus rios” (v.2). Fica claro que Deus está falando de Satanás, o dragão, o Leviatã, a serpente deslizante.
Na passagem que consideramos acima, o Egito, figura de Satanás, é apresentado como uma das árvores do Éden. Mas não é uma árvore qualquer. Sua altura e imponência é visível à distância, de maneira que ela chama a atenção para si.
Em Daniel 4, é a Babilônia que é apresentada como uma árvore frondosa, “que se fazia forte, de maneira que a sua altura chegava até o céu, e era visível até os confins da terra. A sua folhagem era formosa, e o seu fruto abundante, e havia nela sustento para todos; debaixo dela os animais do campo achavam sombra, as aves do céu faziam morada nos seus ramos, e todos os seres viventes se mantinham dela” (Dn.4:11-12).
Repare que o Egito e a Babilônia são dois reinos, duas nações diferentes, mas que num certo espaço de tempo, dominaram o mundo.
Jesus compara o Reino dos céus “ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a mais pequena de todas as sementes, contudo, quando cresce, é maior do que as hortaliças, e se transforma em árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se anihham nos seus ramos”(Mt.13:31-32).
Portanto, podemos inferir que a árvore do bem e do mal representa um reino. Mas que reino é esse? O reino angelical. Embora Deus houvesse permitido que os Bene Elohim transitassem na Terra, não era permitido ao homem estabelecer qualquer relacionamento com eles. Lembre-se que aquela árvore era do bem e do mal. O que aponta para o fato de que a esta altura, a corte celestial já estava dividida entre os anjos fiéis a Deus, e os rebeldes.
Deus queria tratar diretamente com o homem, sem a intermediação de qualquer outra criatura. A Árvore da Vida deveria ser a fonte, não apenas da vida, mas de todo o conhecimento de que o homem necessitasse. Mas certos anjos “deixaram o seu domicílio”, e travaram contacto com a raça humana. Em vez de o homem ressachar a velha serpente, preferiu dar-lhe ouvido.
Após ter comido daquele fruto proibido, o homem caiu de sua condição original, e um abismo se abriu entre ele e seu Criador. A partir daí, os anjos passaram a transitar livremente pela terra.
Continua...
[1] O termo mal’ak aparece 214 vezes no Antigo Testamento, enquanto aggelo aparece 186 vezes no Novo Testamento.
[2] Convém salientar que o verso em que Jesus diz que os anjos nos céus sempre vêem a face do Pai (Mt.18:10), poderia ser traduzido como “sempre estão diante” de Sua face. A palavra traduzida como “vêem” é blopo, que pode significar também “estar diante de”.
[3] Um exemplo disso encontramos em Juízes 13
[4] 1 Pedro 4:14
A Misteriosa Origem dos Demônios
Uma das passagens mais controversas da Bíblia é Gênesis 6. Mas creio que ela nos descortina um pouco mais o drama vivido por nossos primeiros pais. Vejamos o que ela diz:
“Como os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. Então disse o Senhor: Não permanecerá o meu Espírito para sempre com o homem, pois este é mortal; os seus dias serão cento e vinte anos. Havia naqueles dias gigantes na terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Estes foram valentes, os homens de renome que houve na Antiguidade”. Gênesis 6:1-4
Repare que tal evento se deu logo no início da saga humana, quando os homens começaram a se multiplicar. Portanto, não é algo que aconteceu muito depois da Queda. O Livro dos Jubileus diz que os Anjos Guardiões vieram nos dias de Jared, cerca de quinhentos anos depois da criação, com o objetivo de instruir aos homens.[1] Creio que o fato do homem ter optado pela Árvore do Conhecimento do bem e do mal, deu tal prerrogativa aos Anjos Guardiões.
Embora a morte já fosse uma realidade para os homens, Deus, por misericórdia, mantinha neles o Seu Espírito, razão pela qual eram tão longevos.[2] Algo aconteceu que fez com que Deus decidisse limitar a longevidade humana. O texto diz que “viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente” (v.5). Permitir que o homem fosse longevo naquela situação, seria quase tão grave quanto permitir que ele vivesse eternamente no pecado. A raça humana precisava de um freio.[3] O que ocasionou tamanha maldade? O contato da raça humana com anjos caídos.
A expressão “filhos de Deus”, traduzida do hebraico Bene ha-Elohim, é aplicada no Velho Testamento exclusivamente a anjos. Como por exemplo, no Livro de Jó, quando Deus lhe perguntou: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? (...) quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus (bene ha-Elohim) rejubilavam?” (Jó 38:4a,7). Os “filhos de Deus” que rejubilavam enquanto assistiam à criação da terra eram os anjos. Muitas outras passagens reforçam essa ideia.
No verso 4 de Gênesis 6 eles são chamados de “gigantes”, que é traduzido do termo hebraico Nefilim, que significa literalmente “os que caíram”. Esses anjos receberam a autorização de Deus para conviver com a raça humana, com o objetivo de ensinar-lhe todo tipo de ciência. Foi a Queda de primeiro casal que abriu espaço para a atuação desses seres angelicais. Adão e Eva optaram pelo conhecimento do bem e do mal. Em vez de confiar em Deus, preferiram dar ouvidos à serpente. O Diabo tornou-se o príncipe deste mundo, e trouxe para cá toda a sua corte. [4]
O livro de Enoque, que durante muito tempo figurou entre os livros canônicos[5], e que é citado nas Escrituras na Epístola de Judas, aborda esse contato entre a raça humana, e raça angelical. De acordo com ele, aqueles anjos “escolheram cada um uma mulher, e se aproximaram e coabitaram com elas; ensinaram-lhes a feitiçaria, os encantamentos, e as propriedades das raízes e das árvores” (7:10). Esses anjos ensinaram aos homens “o fabrico de espadas, facas, escudos, couraças” (8:1).
Por causa dessa corrupção, disse o Senhor: “Não permanecerá o meu Espírito para sempre com o homem, pois este é mortal” (Gn.6:3a).
A raça humana foi expulsa do paraíso. Perdeu a comunhão com seu Criador. Preferiu o conhecimento oculto, guardado pelos anjos guardiões, à vida eterna garantida pela comunhão com a Árvore da Vida. Ela deixou de ser um ramo da Árvore da Vida, para ser um ramo de uma árvore maligna.
A união entre homens e anjos gerou uma raça caída (Nefilim), que teria que ser destruída pelo Dilúvio, mas cujos espíritos ainda perambulariam entre os humanos, até o fim dos tempos. Esses espíritos, resultado da união entre duas raças distintas, tornaram-se os demônios.
Enoque relata que “os gigantes (Nefilins), que são o preço do comércio do espírito e da carne, serão chamados, na terra, de maus espíritos e sua morada será na terra (...) Os espíritos dos gigantes serão como as nuvens que trazem à terra os flagelos de toda espécie, a peste, a guerra, a fome, e o desgosto. Não beberão, nem comerão, invisíveis a todos os olhos, insurgir-se-ão entre os homens e as mulheres, porque receberam nos dias de destruição e massacre” (14:8a,9-10).
E quanto aos anjos que caíram? Enoque afirma que eram em número de duzentos (7:7). E o que a Bíblia diz sobre o destino deles? Judas diz que “aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas, na escuridão, para o juízo do grande dia” (Jd.6). Judas diz que, a exemplo dos moradores de Sodoma e Gomorra, esses anjos se prostituíram, indo “após outra carne” (v.7). Pedro também relata o destino desses anjos: “Pois se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo” (2 Pe.2:4).
A convivência dos homens com esses seres provocou uma revolução no campo das ciências. A raça humana deu um salto extraordinário, em um curtíssimo espaço de tempo; fato que tem sido comprovado cientificamente. É desconcertante para os cientistas céticos, admitirem não haver qualquer explicação plausível para o enorme salto tecnológico dado pela humanidade há alguns poucos milênios. Grandes descobertas arqueológicas, como os monumentos megalíticos[6] espalhados pelo mundo afora, comprovam isso. Sem falar das pirâmides, não apenas no Egito, mas espalhadas pelas Américas e pela Ásia.
Voltando ao texto de Gênesis 6, lemos que “havia naqueles dias Nefilins na terra, e também depois, quando os anjos coabitaram com as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos”. A expressão “também depois” pode ser interpretada de duas maneiras igualmente plausíveis. Pode-se entender que os Nefilins já conviviam com os humanos antes que as filhas dos homens lhes dessem filhos. E também se pode inferir que houve incursões angelicais posteriores ao Dilúvio. Isso explicaria o aparecimento de raças gigantes na Terra ainda nos dias de Moisés, até os dias de Davi. Ambas as posições podem estar certas. Embora os primeiros Nefilins que tomaram mulheres como esposas tenham sido sentenciados por Deus a serem presos no inferno, aguardando o dia do Juízo, Satanás ainda contava com a terça parte dos anjos que tomaram parte de sua rebelião. De acordo com Enoque, foram duzentos os anjos que tomaram para si mulheres. Muito maior número de anjos Satanás teria ainda a seu dispor.
A prole maldita, fruto do casamento entre os anjos e as mulheres, foi condenada a viver como espíritos malignos (demônios), a semente da serpente, que contenderia com a raça humana, aguardando para ser pisada por Aquele que seria a “semente da mulher”. Assim como pela “mulher” veio a descendência maldita dos anjos caídos, por uma mulher viria o Filho de Deus para desfazer as obras do Diabo.
É bom frisarmos que nada disso aconteceu sem a permissão de Deus. Por trás de tudo isso, havia um plano soberano, cujo objetivo seria revelar ao homem o poder da graça e do amor de Deus.
Ao sentenciar à serpente, Deus declarou: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn.3:15). Os demônios, frutos da conjunção entre anjos caídos e mulheres, são a descendência da serpente. Cristo é o descendente da mulher, que veio para esmagar a cabeça da serpente, e destronar os seus descendentes.
Os espíritos malignos que hoje ainda se manifestam nos corpos dos homens, não são de anjos caídos, como muitos imaginam. Até porque, não há na Bíblia qualquer menção a um anjo que tenha incorporado em alguém. Os tais espíritos, que conhecemos como demônios, são, na verdade, aqueles espíritos resultado da relação entre a raça humana e a raça angelical. Eles são como parasitas, que encostam nas pessoas, para sugar-lhes as energias, e utilizar-se delas para promover seus intentos destruidores. Estão a serviço de Satanás, o Querubim rebelde.
É sensato supor que o propósito dos anjos caídos era o de poluir o sangue humano, impedindo assim que a profecia se cumprisse, e o Descendente da mulher viesse destruí-los.
Para acabar com a farra dos anjos, de seus filhos gigantes, e dos homens ímpios, Deus enviou o Dilúvio. A decisão de Deus era destruir de sobre a face da terra o homem e todos os seres vivos. Entretanto, Sua Palavra não poderia ser invalidada. E quanto ao Descendente da Mulher? E quanto Àquele que esmagaria a cabeça da serpente? A linhagem que o traria ao mundo tinha que ser preservada. Teria que ser uma linhagem que não houvesse se contaminado com os anjos caídos.[7]
O título predileto usado por Jesus para referir-Se a Si mesmo era “Filho do Homem”. Esse título é extraído diretamente do Livro de Enoque, onde o encontramos com enorme freqüência. Ao declarar-Se Filho do Homem, Jesus estava ressaltando o fato de que Sua humanidade é pura, e Seu sangue não havia sido contaminado pelos Nefilins. Esta é a razão pela qual as Escrituras dão tamanha importância à genealogia do Messias. Embora Jesus seja 100% Deus, em Sua humanidade Ele é 100% homem. Sua humanidade é tão pura quanto a de Adão, daí Ele ser chamado de “o segundo Adão”.
Versões diferentes da Interferência Angélica na Raça Humana
Esse evento bizarro encontra eco nas lendas e mitos da cada cultura antiga do planeta. Gregos, egípcios, hindus, índios, e praticamente todos os demais povos contam acerca do envolvimento de seres humanos com seres celestiais. Flavio Josefo, o grande historiador judeu do século I, faz paralelos entre o fato bíblico e a mitologia greco-romana. O texto de Gênesis diz que os seres híbridos engendrados pelos anjos “foram valentes, os homens de renome que houve na Antiguidade” (Gn.6:4b). A mitologia não deve ser entendida como mera invenção do gênio humano. Ela surge no solo fecundo das tradições, das lendas, que nada mais são do que fatos corrompidos de verdades primitivas. É muito comum encontrarmos lendas como a de Hércules, fruto do casamento entre Zeus e uma mulher. Assim como é comum encontrarmos lendas sobre o dilúvio. Esses são pontos convergentes em todas as tradições religiosas do mundo.
Em praticamente todas as culturas antigas pode-se encontrar histórias semelhantes sobre a presença de “deuses”. Entre os egípcios, encontramos Ísis e Osíris. Entre os povos da Índia e do Tibete, encontramos lendas sobre a cidade de Shambala e os “Budas” ou “deuses” que teriam trazido ciência e sabedoria para os seus povos. A intromissão dos Nefilins entre as diversas culturas da terra explicaria, por exemplo, como a civilização Asteca, Inca e Maia adquiriu tanto conhecimento nas diversas áreas científicas, sendo capazes de produzir sofisticados calendários e mapas estelares.
Alguns templos de origem asteca foram dedicados a dois seres que localmente eram chamados de "deuses" e que teriam vivido num período estimado entre 300 a 900 d.C. De acordo com a lenda contada, estes dois "deuses" - um homem e uma mulher teriam vindo para Terra com outros deuses e começaram a ensinar os nativos como eles poderiam construir uma grande civilização. Estes “deuses” ficaram entre os nativos por um grande período de tempo, ensinando-os matemática, ciência, astronomia além de outros conhecimentos. Então, antes que os dois "deuses" retornassem à sua "casa", um outro grupo de diferentes "deuses" teriam aparecido em cena. Segundo a lenda, houve um grande conflito entre eles e os dois “deuses” presentes foram mortos. Enlutados com sua morte, os nativos sepultaram seus "deuses" mortos na principal pirâmide que eles haviam ajudado a construir. Esqueletos bizarros, com crânios bem maiores do que o normal, foram encontrados nessa pirâmide.
Lendas sobre Viracocha, divindade adorada pelos Incas, dizem que os primeiros seres que ele criou, chamados huari ruma, seriam gigantes, que vivam na época conhecida como Naupa Pacha (“o tempo dos ancestrais”). Os indígenas locais afirmam que os naupas viveram muito antes dos incas, ensinando coisas aos homens e, quando foram embora, “subiram ao céu e nunca mais voltaram”.[1]
Outro exemplo interessante é dos Sumérios. Sua astronomia era incrivelmente avançada: seus observatórios obtinham cálculos do ciclo lunar que diferiam em apenas 0,4 segundos dos cálculos atuais. Na colina de Kuyundjick, antiga Nínive, foi encontrado um cálculo, cujo resultado final, em nossa numeração, corresponde a 195.955.200.000.000. Um número de quinze casas! Enquanto os sofisticados gregos, no apogeu do seu saber, não passaram do número 10.000, considerando qualquer número a mais como sendo o "infinito". Na cidade de Nipur, 150 km ao sul de Bagdá, foi encontrada uma biblioteca sumeriana inteira, contendo cerca de 60.000 placas de barro com inscrições denominadas: cuneiformes. Lâminas de argila sumérias têm informações precisas sobre os planetas do sistema solar. O mais impressionante são os dados sobre Plutão (Planeta que só foi descoberto em 1930!). Eles sabiam o tamanho de Plutão, sua composição química e orgânica e afirmavam que Plutão era na verdade uma lua de outro planeta do Sistema Solar que se "desprendeu" e ganhou uma nova órbita (hipótese que tem sido levantada entre pesquisadores da NASA). Eles chamavam a Lua de pote de chumbo e diziam que seu núcleo era uma 'cabaça' de ferro. Dados que foram confirmados pela NASA, durante o programa Apolo. Como tal conhecimento poderia ser possível há 3.000 anos? Os Sumérios alegavam ter recebido tal conhecimento dos “deuses” que vieram do céu. Segundo eles, esses seres tinham uma expectativa de vida de 20.000 anos, período completamente incompreensível para os nossos padrões, e eram homens gigantes. Esses “deuses” misturaram-se com os humanos, gerando assim novas raças e etnias, conhecidos por eles como os "filhos dos Deuses". Será tudo isso coincidência?
Como a Igreja Primitiva interpretava Gn.6?
A igreja primitiva não tinha qualquer dificuldade em identificar os Bene ha-Elohim como anjos caídos. Entre os primeiros pais da igreja, podemos citar Justino, Atenágoras, Cipriano, Eusébio, e entre os judeus, podemos citar Josefo, o grande historiador, e Philo. Antigas fontes rabínicas, bem como os tradutores da Septuaginta, eram unânimes nesse ponto de vista.
Ainda no século II, Justino Mártir atribuía toda maldade aos demônios, que segundo ele, eram os filhos dos anjos que caíram devido à sua cobiça pelas filhas dos homens. Veja o que ele diz em sua Segunda Apologia:
Em sua obra Legatio, escrita em torno de 170 d.C., Atenágoras apresenta os anjos que “violaram a sua natureza e a sua missão”, e ainda comenta o paralelismo entre a verdade das Escrituras, e as versões da Mitologia:
Tertuliano (160-230 d.C), muito admirado nos círculos teológicos, afirmou:
Tertuliano chega a citar uma prática comum na igreja primitiva, de renunciar na cerimônia de batismo, a influência dos anjos caídos.[11]
Clemente de Alexandria (150-220) fala acerca dos anjos “que renunciaram à beleza de Deus em troca da beleza que se desvanece, caindo assim do céu para a terra”.[12] Na obra conhecida como “As Homilias de Clemente”, lemos que os anjos “modificaram-se, assumindo a natureza de homens” e compartilharam a luxúria humana.[13]
Foi Júlio Africano (200-245 d.C., contemporâneo de Orígenes) que introduziu a teoria de que os “filhos de Deus” seriam os descendentes de Sete, e as filhas dos homens seriam as descendentes de Caim. Ciro de Alexandria também repudiou a posição ortodoxa predominante entre seus contemporâneos. Jerônimo (348-420),Crisóstomo (346-407) também fizeram coro com a nova teoria. Mas foi Agostinho (354-430) quem desferiu o golpe definitivo contra a antiga crença, abraçando a teoria de que os filhos de Deus seriam, de fato, os filhos de Sete. A posição de Agostinho prevaleceu por toda a Idade Média, até os dias de hoje.
Convém salientar os motivos que levaram Agostinho a abolir a crença de que os anjos houvessem caído em luxúria com as mulheres. Durante o tempo de seu ministério, Agostinho teve de enfrentar um grave problema causado pela grande popularidade dos anjos: As pessoas estavam prestando-lhes culto, oferecendo-lhes sacrifícios e orações. A situação já estava fora de controle. Por essa razão, Agostinho procurou reduzir os anjos à forma mais abstrata possível, pregando publicamente:
Eis as razões sinceras, porém, equivocadas, que levaram o grande teólogo do IV Século a aderir à teoria da descendência setita.
Vamos analisar cuidadosamente as premissas desta teoria.
De acordo com essa posição, os filhos de Deus são identificados como os filhos de Sete, pelo fato de esses constituírem a boa linhagem de onde viria o Messias. Já a descendência de Caim não tinha temor de Deus, e era conhecida por sua impiedade. Se os filhos de Deus eram os filhos de Sete, e as filhas dos homens eram as filhas de Caim, como a união entre essas duas linhagens pôde produzir gigantes? Não conheço qualquer caso de casais onde o marido é crente e a esposa incrédula que tenha produzido filhos gigantes, ou mesmo, uma descendência maligna. Pelo contrário. O apóstolo Paulo diz que “o marido incrédulo é santificado pela mulher, e a mulher incrédula é santificada pelo marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros, mas agora são santos” (1 Co.7:14).
Quanto à alegação de que a linhagem de Sete era uma “linhagem bondosa” carece de qualquer respaldo bíblico. Se fosse “bondosa” não teria se envolvido com uma “linhagem perversa”, como a de Caim. Nunca houve, nem haverá entre os humanos uma linhagem bondosa. O que houve foi uma “linhagem messiânica”, pela qual veio o Messias. Entretanto, essa “linhagem” é bem “maldosa”, se quisermos ser honesto com o relato bíblico. Não é à toa que encontramos a árvore genealógica de Jesus em Mateus e em Lucas. Em Sua linhagem encontramos de tudo. Desde Judá, um fornicário (Gn.38), passando por Perez, filho ilegítimo, Raabe, prostituta, Bateseba, adúltera (Mt.1:1-6), e algumas outras figuras, no mínimo, controversas.
Embora tenha vindo de uma linhagem de pecadores, Jesus nasceu sem pecado, pois Seu DNA foi produzido pelo Espírito Santo, no ventre de uma virgem chamada Maria. De Maria, Deus aproveitou o cromossomo X, puro, sem a contaminação dos genes angélicos. Do Espírito Santo veio o cromossomo Y, que gerou o corpo no qual Deus habitou entre nós.
O principal argumento contra o envolvimento sexual entre os anjos e as mulheres é tirado de uma passagem neo-testamentária, em que Jesus afirma que no céu todos seremos como os anjos, que não se casam, nem se dão em casamento. Concluiu-se, daí, que os anjos são seres assexuados, e que, portanto, não poderiam ter coabitado com as mulheres, nem tampouco lhe dado filhos.
Mas basta um exame mais acurado do texto (Mt.22:30), e veremos o que realmente Jesus quis dizer. Ele disse: “Na ressurreição nem se casam nem são dados em casamento; serão os anjos de Deus no céu”. Repare o detalhe “no céu”. De fato, no céu, os anjos são seres espirituais, que não podem se casar, ou manter qualquer tipo de atividade sexual. Entretanto, somos informados por Judas que esses anjos “deixaram a sua própria habitação” (Jd.6). Ao descer à terra, eles assumiram corpos físicos, bem semelhantes aos dos seres humanos.
A bem da verdade, não existe um anjo nas Escrituras que seja assexuado. De Gênesis a Apocalipse, os anjos se apresentam como “varões”[14]. De acordo com os relatos bíblicos, os anjos aparecem, na maioria das vezes, como homens de carne e osso, podendo ser tocados por mãos humanas; comem o mesmo alimento dos homens, e são capazes de combate físico direto, como no caso ocorrido com Jacó. O escritor de Hebreus chega a afirmar que muitos, sem se darem conta, “hospedaram anjos” (Hb.12:2).
Em Gênesis 18, encontramos três anjos enviados por Deus a Abraão. Eles, não apenas foram recebidos com honra pelo patriarca, como também participaram de um verdadeiro banquete. Bezerro assado, pão, coalhada, leite, foram algumas das iguarias que “eles comeram” (Gn.18:8).
Alguém poderá alegar: Entre comer e ter relações sexuais há uma grande distância.
De fato, os anjos são espíritos, mas que possuem também uma estrutura “carnal”. Ainda que seja “outra carne”, conforme lemos em Judas 7. Neste texto, Judas relata o que aconteceu em “Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas que, havendo-se prostituído como aqueles (anjos), e ido após outra carne (a dos anjos), foram postas como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno” (Jd.7).
Que cidades circunvizinhas eram essas? As que Josué, mais tarde, teve que destruir. Somos levados a crer que houve outras incursões de anjos caídos no mundo após o Dilúvio. Segundo Enoque, foram duzentos o números dos anjos que tiveram relações com as mulheres. Esses foram aprisionados, e aguardam o dia do Juízo. Entretanto, Satanás seduziu a terça parte das hostes celestiais. Alguns desses anjos desceram à Terra para dar continuidade à sua prole maldita, e ao seu intento de impedir a conclusão do plano de Deus.
Enoque parece fazer alusão a isso no capítulo 85, versos 2 e 4 do seu Livro:
Na sequência do texto, Enoque diz, por meio de uma parábola, que tais “estrelas”, que vieram em uma segunda incursão, foram as responsáveis pela contaminação de algumas civilizações que habitavam a Terra., chamadas ali de elefantes, camelos e asnos. Tais povos teriam sido engendrados por essas criaturas celestiais.
Uma outra passagem parece lançar luz sobre esse fato é Deuteronômio 32:8. Ali, no cântico de Moisés, lemos:
Outra passagem que corrobora com essa está em Deuteronômio 4:19, onde Moisés adverte o povo de Israel: “E não levantes os teus olhos aos céus e vejas o sol, e a lua, e as estrelas, todo o exército dos céus, e sejas impelido a que te inclines perante eles, e sirvas àqueles que o Senhor, teu Deus, repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus”.
Fica claro que o próprio Deus distribui as nações, submetendo-as aos Anjos Guardiões (Também chamados de Sentinelas ou Vigilantes). Afinal, Adão havia entregado o mundo a Satanás. Nada mais natural que as nações fossem repartidas entre seus anjos aliados. E isso foi feito com o consentimento de Deus. Por isso, cada nação servia a seus próprios deuses. Baal, Asterote, Dagon e outros ídolos, nada mais eram que seres angelicais, aos quais as nações foram submetidas. O verso 9, porém, diz: “Mas a parte do Senhor foi o seu povo, o lote da sua herança foi Jacó”.
É provável que aqueles povos já estivessem familiarizados com a visita dos “deuses”. Foi por isso que os moradores de Sodoma quiseram agarrar à força os anjos que Deus havia enviado a Ló, para tirá-lo de lá, juntamente com a sua família.[16] Eles só não podiam supor que aqueles anjos não eram Nefilins, mas anjos enviados por Deus para trazer juízo àquelas cidades.
Até entre os gregos e romanos contemporâneos dos apóstolos, havia a crença de que os deuses desciam entre os homens, na semelhança humana. Em Atos encontramos a curiosa narrativa de um episódio em que as multidões acreditaram que Paulo e Barnabé eram Júpiter e Mercúrio, deuses da mitologia romana que os estavam visitando. As multidões clamavam: “Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens, e desceram até nós” (At.14:11b). Chegaram a ponto de trazerem touros para serem sacrificados a eles. Os apóstolos tiveram que reagir energicamente para dissuadi-los: “Porém, ouvindo isto os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgaram as suas vestes, e saltaram para o meio da multidão, clamando: Senhores, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há, o qual nos tempos passados deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos. Contudo, não deixou de dar testemunho de si mesmo” (vv.14-17a). Repare que eles chamam os deuses das nações de “vaidade”.
Devemos atentar mais uma vez para o que diz Gênesis 6. O texto diz que havia Nefilins naqueles dias, e também depois deles. Quando Moisés escreveu este relato, a Terra estava infestada de gigantes, uma raça híbrida, fruto da mistura entre anjos e humanos.
Entre as tribos que habitavam Canaã, a Terra Prometida, estavam os Refains, Emins, Horins, Zanzumins, que eram gigantes. O reino de Ogue, rei de Basã, era uma verdadeira “terra dos gigantes”. Mais adiante encontramos Arba, Anaque e seus sete filhos (Anaquins), que também eram gigantes. Sem nos esquecer de Golias e seus quatro irmãos.
Quando Deus revelou a Abraão que a Terra de Canaã lhe seria dada por herança, Satanás teve cerca de 400 anos para plantar ali a semente nefasta dos Nefilins.
Isso nos remete à parábola do joio e do trigo. Jesus conta que “o reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo. Mas enquanto os homens dormiam, veio o seu inimigo, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se” (Mt.13:24-25). Jesus explica que “o campo é o mundo, e a boa semente são os filhos do reino. O joio são os filhos do maligno, e o inimigo que o semeou é o diabo” (v.38).
O destino do joio já está traçado: “Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa pecado, e todos os que cometem iniquidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo, onde haverá pranto e ranger de dentes” (vv.40-42). Repare nisso: Deus eliminará de Seu reino “tudo o que causa pecado” e “todos os que cometem iniquidade”. Creio que “tudo o que causa pecado” seja uma alusão aos demônios, aos Nefilins, cujo objetivo é instigar os homens a pecar. Entretanto, os homens não ficarão impunes. Todos os que cometem iniquidade serão exterminados para sempre.
Na mesma passagem em que Isaías relata a queda do Querubim rebelde, lemos a sentença lavrada por Deus contra a descendência dos Nefilins: “A descendência dos malignos não será nomeada para sempre. Preparai a matança para os filhos por causa dos pais, para que não se levantem e possuam a terra, e encham o mundo de cidades” (Is.14:20b-21). Aquela prole amaldiçoada tinha que ser exterminada, para que não trouxesse males ainda maiores à humanidade.
Ao enviar seus doze espias à terra de Canaã, Moisés ordenou que eles sondassem a população que havia naquela região. Ao retornarem de sua missão, os espias relataram que viram gigantes na terra (o termo usado em hebraico é Nefilim).
Quando, finalmente, Israel estava prestes a entrar em Canaã, depois de perambular pelo deserto por cerca de 40 anos, Josué foi instruído por Deus a destruir completamente os morados daquelas cidades, não poupando nem mesmo mulheres e crianças.
Satanás semeou ali o seu joio, para impedir que a semente de Abraão, de onde viria o Messias, se estendesse por toda aquela região.
O livro de Números relata a presença dos Nefilins em Canaã, muito depois do Dilúvio. Depois de vagar por 40 anos no deserto, os filhos de Israel deram uma parada em Cades, que era uma espécie de Oásis no norte do Sinai. Foi dali que Moisés enviou os doze espiais à Terra Prometida. O texto diz:
Depois de 40 dias, os espias retornaram com o seguinte relatório:
Quando o povo já demonstrava desânimo com o relatório dos espiais, Calebe tomou a palavra e disse: “Subamos animosamente, e possuamo-la em herança, pois certamente prevaleceremos contra ela. Porém os homens que com ele subiram disseram: Não poderemos atacar aquele povo; é mais forte do que nós. E diante dos filhos de Israel infamaram a terra que tinham explorado, dizendo: A terra, pelo meio do qual passamos a espiar, é terra que devora os seus moradores. Todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes (pois os descendentes de Enoque são de raça gigante), e éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos, e assim também lhes parecíamos” (Nm.13:30-33).
Por causa do receio dos filhos de Israel em enfrentar os Nefilins, toda aquela geração foi reprovada por Deus, ficando prostrado no deserto, ao longo de quarenta anos de peregrinação. Daquela geração que saíra do Egito, somente dois, Josué e Calebe, adentraram a terra prometida.
Quarenta e cinco anos depois deste episódio, quando Calebe recebeu de Josué a sua parte da herança, teve que enfrentar os Enaquins (Nefilins), e expulsá-los do monte Hebrom (Js.14:12-15).
A ordem de Deus não poderia ser atenuada. Sua instrução foi clara:
“Ouve, ó Israel! Hoje passarás o Jordão para entrares a possuir nações maiores e mais fortes do que tu, cidades grandes e muradas até o céu. O povo é grande e alto, filhos dos Enaquins, que tu conheces e de quem já ouvistes dizer: Quem poderá enfrentar os filhos de Enaque? Sabe, porém, hoje, que é o Senhor teu Deus que passa adiante de ti, como um fogo consumidor. Ele os destruirá e os derrubará diante de ti, e tu cedo os expulsarás e os desfarás, como o Senhor te prometeu. Quando o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não digas em teu coração: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir. Antes, é pela impiedade destas nações que o Senhor as expulsa de diante de ti (...) e para confirmar a palavra que o Senhor teu Deus jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.” Deuteronômio 9:1-4,5b
Em Deuteronômio, os gigantes Enaquins (descendentes dos Nefilins) também são conhecidos como Rafains (Deut.2:11). Entre os mais conhecidos Rafains está o rei Ogue, de Basã. De acordo com Deuteronômio, a enorme cama de ferro[17] de Ogue ainda podia ser vista em Rabá (Deut.3:11).
Segundo a Bíblia, tanto os Refains quanto os Enaquins foram exterminados por Moisés (Js.12:4-6), Josué (Js.11:21-22) e Calebe (Js.15:14; Jz.1:20), ainda que restassem alguns desgarrados, que acabaram mortos por Davi e seus homens (2 Sm.21:18-22; 1 Cro.20:4-8).
Embora os gigantes tenham sido erradicados da Terra, fomos comissionados por Cristo a expulsar os demônios, na autoridade do Nome de Jesus. Portanto, a luta continua. Mas a vitória é garantida “pelo sangue do Cordeiro” e pela palavra de nosso testemunho (Ap.12:11).
Paulo fala que nossa luta não é contra carne nem o sangue, mas contra os principados, as potestades, os poderes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes. De Gênesis 6 até os dias de Davi, o povo escolhido por Deus teve que lutar contra inimigos de carne e sangue. Aqueles mesmos inimigos estão em guerra contra o povo de Deus hoje. A diferença é que já não são carne e sangue, mas seres espirituais. Quando Paulo fala de “poderes deste mundo tenebroso”, está se referindo aos demônios, que trabalham por trás das estruturas injustas que buscam cativar os seres humanos. Já “os principados, as potestades, e as forças espirituais da maldade nas regiões celestes” dizem respeito àqueles anjos que se rebelaram contra Deus, e hoje atuam sob a orientação do “príncipe das potestades aéreas”.
[1] Livro dos Jubileus 4:15[2] Um exemplo de longevidade é Matusalém que viveu 969 anos. O próprio Adão viveu 930 anos![3] Mais tarde Deus estabeleceu que o homem deveria viver em média 70 anos.[4] A terça parte dos anjos, que participaram da rebelião promovida pelo Querubim Helel ben-shahar (Lúcifer).[5] De acordo com Luther Link, «até o século IV, Enoque fazia parte do ainda mal definido cânone»; «Familiar para os judeus e primeiros cristãos, Enoque foi um texto sagrado autêntico para Judas, Clemente, Barnabé, Tertuliano e outros primeiros pais» (embora Jerônimo e Orígenes fizessem ressalvas).[6] Monumento megalíticos – Monumentos feitos com grandes pedras, que pesam toneladas. Ainda é um mistério para a ciência, a maneira como tais pedras foram transportadas. Um exemplo disso são as famosas estátuas da Ilha de Páscoa, que fica a milhares de quilômetros do continente, no meio do Oceano Pacífico.[7] É por ser oriundo de uma linhagem pura, que não fora poluída pela semente dos Nefilins, que Jesus é chamado “Filho do Homem”.[8] Mártir, Justino, “The Second Apology”, Writings of Saint Justin Martyr, traduzido por Thomas B. Falls (N.York: New York Christian Heritage, 1948), p.124.[9] Atenágoras, “Legatio”, ed. e trad. William R. Schoedel, Oxford Early Christian Texts: Legatio and De Resurreictione(Oxford: Clarendon Press, 1972(, p.61.[10] Tertuliano, “Apology”, Apologetical Works, Fathers of the Church, 69 vols. Até esta data (Washington, D.C.: Catholic University os America PRESS, 1947-), 10 (1950): 69.[11] Tertuliano, “The Apparel of Women”, Disciplinary, Moral, anda Ascetical Works, Fathers of the Church, 40:118-20.[12] Clemente, “The Instrutor”, Ante-Nicene Fathers, 2:274.[13] The Clementine Homilies, Ante-Nicene Fathers, 8:272-73[14] Ver Apocalipse 21:17; Gálatas 4:14; Atos 1:10; Juízes 13: 3-21; Daniel 9; Gênesis 19:10-15, Hebreus 13[15] Há traduções que trazem “filhos de Israel” em vez de “filhos de Deus” (bene ha-Elohim). Está comprovado através da descoberta de um texto fragmentário entre os Manuscritos do Mar Morto que continha o Deuteronômio 32:8. composto em escrita do final do período herodiano (fim do século I a.C. ao início do século 1 d.C.), que as últimas palavras do versículo são claramente bene ha-Elohim (filhos de Deus = anjos). Esse fragmento é hoje o mais antigo texto hebraico do Deuteronômio 32:8 conhecido. Essa redação foi preservada na Septuaginta Grega, que traduziu como “aggelon theou” (anjos de Deus).[16] Convém salientar que esses anjos também comeram de um banquete preparado por Ló. Ver Gn.19:3[17] A cama de Ogue tinha cerca de 4m de cumprimento e 2m de largura.[1] Waisbard, Simone, Tiahuanaco, Ed. Hemus[2] Agostinho, Santo, De Civitate Dei, X.
“Como os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. Então disse o Senhor: Não permanecerá o meu Espírito para sempre com o homem, pois este é mortal; os seus dias serão cento e vinte anos. Havia naqueles dias gigantes na terra, e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Estes foram valentes, os homens de renome que houve na Antiguidade”. Gênesis 6:1-4
Repare que tal evento se deu logo no início da saga humana, quando os homens começaram a se multiplicar. Portanto, não é algo que aconteceu muito depois da Queda. O Livro dos Jubileus diz que os Anjos Guardiões vieram nos dias de Jared, cerca de quinhentos anos depois da criação, com o objetivo de instruir aos homens.[1] Creio que o fato do homem ter optado pela Árvore do Conhecimento do bem e do mal, deu tal prerrogativa aos Anjos Guardiões.
Embora a morte já fosse uma realidade para os homens, Deus, por misericórdia, mantinha neles o Seu Espírito, razão pela qual eram tão longevos.[2] Algo aconteceu que fez com que Deus decidisse limitar a longevidade humana. O texto diz que “viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente” (v.5). Permitir que o homem fosse longevo naquela situação, seria quase tão grave quanto permitir que ele vivesse eternamente no pecado. A raça humana precisava de um freio.[3] O que ocasionou tamanha maldade? O contato da raça humana com anjos caídos.
A expressão “filhos de Deus”, traduzida do hebraico Bene ha-Elohim, é aplicada no Velho Testamento exclusivamente a anjos. Como por exemplo, no Livro de Jó, quando Deus lhe perguntou: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? (...) quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus (bene ha-Elohim) rejubilavam?” (Jó 38:4a,7). Os “filhos de Deus” que rejubilavam enquanto assistiam à criação da terra eram os anjos. Muitas outras passagens reforçam essa ideia.
No verso 4 de Gênesis 6 eles são chamados de “gigantes”, que é traduzido do termo hebraico Nefilim, que significa literalmente “os que caíram”. Esses anjos receberam a autorização de Deus para conviver com a raça humana, com o objetivo de ensinar-lhe todo tipo de ciência. Foi a Queda de primeiro casal que abriu espaço para a atuação desses seres angelicais. Adão e Eva optaram pelo conhecimento do bem e do mal. Em vez de confiar em Deus, preferiram dar ouvidos à serpente. O Diabo tornou-se o príncipe deste mundo, e trouxe para cá toda a sua corte. [4]
O livro de Enoque, que durante muito tempo figurou entre os livros canônicos[5], e que é citado nas Escrituras na Epístola de Judas, aborda esse contato entre a raça humana, e raça angelical. De acordo com ele, aqueles anjos “escolheram cada um uma mulher, e se aproximaram e coabitaram com elas; ensinaram-lhes a feitiçaria, os encantamentos, e as propriedades das raízes e das árvores” (7:10). Esses anjos ensinaram aos homens “o fabrico de espadas, facas, escudos, couraças” (8:1).
Por causa dessa corrupção, disse o Senhor: “Não permanecerá o meu Espírito para sempre com o homem, pois este é mortal” (Gn.6:3a).
A raça humana foi expulsa do paraíso. Perdeu a comunhão com seu Criador. Preferiu o conhecimento oculto, guardado pelos anjos guardiões, à vida eterna garantida pela comunhão com a Árvore da Vida. Ela deixou de ser um ramo da Árvore da Vida, para ser um ramo de uma árvore maligna.
A união entre homens e anjos gerou uma raça caída (Nefilim), que teria que ser destruída pelo Dilúvio, mas cujos espíritos ainda perambulariam entre os humanos, até o fim dos tempos. Esses espíritos, resultado da união entre duas raças distintas, tornaram-se os demônios.
Enoque relata que “os gigantes (Nefilins), que são o preço do comércio do espírito e da carne, serão chamados, na terra, de maus espíritos e sua morada será na terra (...) Os espíritos dos gigantes serão como as nuvens que trazem à terra os flagelos de toda espécie, a peste, a guerra, a fome, e o desgosto. Não beberão, nem comerão, invisíveis a todos os olhos, insurgir-se-ão entre os homens e as mulheres, porque receberam nos dias de destruição e massacre” (14:8a,9-10).
E quanto aos anjos que caíram? Enoque afirma que eram em número de duzentos (7:7). E o que a Bíblia diz sobre o destino deles? Judas diz que “aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas, na escuridão, para o juízo do grande dia” (Jd.6). Judas diz que, a exemplo dos moradores de Sodoma e Gomorra, esses anjos se prostituíram, indo “após outra carne” (v.7). Pedro também relata o destino desses anjos: “Pois se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo” (2 Pe.2:4).
A convivência dos homens com esses seres provocou uma revolução no campo das ciências. A raça humana deu um salto extraordinário, em um curtíssimo espaço de tempo; fato que tem sido comprovado cientificamente. É desconcertante para os cientistas céticos, admitirem não haver qualquer explicação plausível para o enorme salto tecnológico dado pela humanidade há alguns poucos milênios. Grandes descobertas arqueológicas, como os monumentos megalíticos[6] espalhados pelo mundo afora, comprovam isso. Sem falar das pirâmides, não apenas no Egito, mas espalhadas pelas Américas e pela Ásia.
Voltando ao texto de Gênesis 6, lemos que “havia naqueles dias Nefilins na terra, e também depois, quando os anjos coabitaram com as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos”. A expressão “também depois” pode ser interpretada de duas maneiras igualmente plausíveis. Pode-se entender que os Nefilins já conviviam com os humanos antes que as filhas dos homens lhes dessem filhos. E também se pode inferir que houve incursões angelicais posteriores ao Dilúvio. Isso explicaria o aparecimento de raças gigantes na Terra ainda nos dias de Moisés, até os dias de Davi. Ambas as posições podem estar certas. Embora os primeiros Nefilins que tomaram mulheres como esposas tenham sido sentenciados por Deus a serem presos no inferno, aguardando o dia do Juízo, Satanás ainda contava com a terça parte dos anjos que tomaram parte de sua rebelião. De acordo com Enoque, foram duzentos os anjos que tomaram para si mulheres. Muito maior número de anjos Satanás teria ainda a seu dispor.
A prole maldita, fruto do casamento entre os anjos e as mulheres, foi condenada a viver como espíritos malignos (demônios), a semente da serpente, que contenderia com a raça humana, aguardando para ser pisada por Aquele que seria a “semente da mulher”. Assim como pela “mulher” veio a descendência maldita dos anjos caídos, por uma mulher viria o Filho de Deus para desfazer as obras do Diabo.
É bom frisarmos que nada disso aconteceu sem a permissão de Deus. Por trás de tudo isso, havia um plano soberano, cujo objetivo seria revelar ao homem o poder da graça e do amor de Deus.
Ao sentenciar à serpente, Deus declarou: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn.3:15). Os demônios, frutos da conjunção entre anjos caídos e mulheres, são a descendência da serpente. Cristo é o descendente da mulher, que veio para esmagar a cabeça da serpente, e destronar os seus descendentes.
Os espíritos malignos que hoje ainda se manifestam nos corpos dos homens, não são de anjos caídos, como muitos imaginam. Até porque, não há na Bíblia qualquer menção a um anjo que tenha incorporado em alguém. Os tais espíritos, que conhecemos como demônios, são, na verdade, aqueles espíritos resultado da relação entre a raça humana e a raça angelical. Eles são como parasitas, que encostam nas pessoas, para sugar-lhes as energias, e utilizar-se delas para promover seus intentos destruidores. Estão a serviço de Satanás, o Querubim rebelde.
É sensato supor que o propósito dos anjos caídos era o de poluir o sangue humano, impedindo assim que a profecia se cumprisse, e o Descendente da mulher viesse destruí-los.
Para acabar com a farra dos anjos, de seus filhos gigantes, e dos homens ímpios, Deus enviou o Dilúvio. A decisão de Deus era destruir de sobre a face da terra o homem e todos os seres vivos. Entretanto, Sua Palavra não poderia ser invalidada. E quanto ao Descendente da Mulher? E quanto Àquele que esmagaria a cabeça da serpente? A linhagem que o traria ao mundo tinha que ser preservada. Teria que ser uma linhagem que não houvesse se contaminado com os anjos caídos.[7]
Foi em Noé que Deus achou o homem através do qual a linhagem humana seria preservada. De acordo com o texto sagrado, Noé “achou graça aos olhos do Senhor”. O fato é que ele era “homem justo e perfeito em suas gerações, e andava com Deus”, enquanto que a terra inteira “estava corrompida diante de Deus, e cheia de violência”, pois “todas as pessoas haviam corrompido o seu caminho sobre a terra” (Gn.6:8-9,11-12). Ser “perfeito em suas gerações” equivale a ter sua genealogia intacta, sem a presença da semente maligna.
O título predileto usado por Jesus para referir-Se a Si mesmo era “Filho do Homem”. Esse título é extraído diretamente do Livro de Enoque, onde o encontramos com enorme freqüência. Ao declarar-Se Filho do Homem, Jesus estava ressaltando o fato de que Sua humanidade é pura, e Seu sangue não havia sido contaminado pelos Nefilins. Esta é a razão pela qual as Escrituras dão tamanha importância à genealogia do Messias. Embora Jesus seja 100% Deus, em Sua humanidade Ele é 100% homem. Sua humanidade é tão pura quanto a de Adão, daí Ele ser chamado de “o segundo Adão”.
Versões diferentes da Interferência Angélica na Raça Humana
Esse evento bizarro encontra eco nas lendas e mitos da cada cultura antiga do planeta. Gregos, egípcios, hindus, índios, e praticamente todos os demais povos contam acerca do envolvimento de seres humanos com seres celestiais. Flavio Josefo, o grande historiador judeu do século I, faz paralelos entre o fato bíblico e a mitologia greco-romana. O texto de Gênesis diz que os seres híbridos engendrados pelos anjos “foram valentes, os homens de renome que houve na Antiguidade” (Gn.6:4b). A mitologia não deve ser entendida como mera invenção do gênio humano. Ela surge no solo fecundo das tradições, das lendas, que nada mais são do que fatos corrompidos de verdades primitivas. É muito comum encontrarmos lendas como a de Hércules, fruto do casamento entre Zeus e uma mulher. Assim como é comum encontrarmos lendas sobre o dilúvio. Esses são pontos convergentes em todas as tradições religiosas do mundo.
Em praticamente todas as culturas antigas pode-se encontrar histórias semelhantes sobre a presença de “deuses”. Entre os egípcios, encontramos Ísis e Osíris. Entre os povos da Índia e do Tibete, encontramos lendas sobre a cidade de Shambala e os “Budas” ou “deuses” que teriam trazido ciência e sabedoria para os seus povos. A intromissão dos Nefilins entre as diversas culturas da terra explicaria, por exemplo, como a civilização Asteca, Inca e Maia adquiriu tanto conhecimento nas diversas áreas científicas, sendo capazes de produzir sofisticados calendários e mapas estelares.
Alguns templos de origem asteca foram dedicados a dois seres que localmente eram chamados de "deuses" e que teriam vivido num período estimado entre 300 a 900 d.C. De acordo com a lenda contada, estes dois "deuses" - um homem e uma mulher teriam vindo para Terra com outros deuses e começaram a ensinar os nativos como eles poderiam construir uma grande civilização. Estes “deuses” ficaram entre os nativos por um grande período de tempo, ensinando-os matemática, ciência, astronomia além de outros conhecimentos. Então, antes que os dois "deuses" retornassem à sua "casa", um outro grupo de diferentes "deuses" teriam aparecido em cena. Segundo a lenda, houve um grande conflito entre eles e os dois “deuses” presentes foram mortos. Enlutados com sua morte, os nativos sepultaram seus "deuses" mortos na principal pirâmide que eles haviam ajudado a construir. Esqueletos bizarros, com crânios bem maiores do que o normal, foram encontrados nessa pirâmide.
Lendas sobre Viracocha, divindade adorada pelos Incas, dizem que os primeiros seres que ele criou, chamados huari ruma, seriam gigantes, que vivam na época conhecida como Naupa Pacha (“o tempo dos ancestrais”). Os indígenas locais afirmam que os naupas viveram muito antes dos incas, ensinando coisas aos homens e, quando foram embora, “subiram ao céu e nunca mais voltaram”.[1]
Outro exemplo interessante é dos Sumérios. Sua astronomia era incrivelmente avançada: seus observatórios obtinham cálculos do ciclo lunar que diferiam em apenas 0,4 segundos dos cálculos atuais. Na colina de Kuyundjick, antiga Nínive, foi encontrado um cálculo, cujo resultado final, em nossa numeração, corresponde a 195.955.200.000.000. Um número de quinze casas! Enquanto os sofisticados gregos, no apogeu do seu saber, não passaram do número 10.000, considerando qualquer número a mais como sendo o "infinito". Na cidade de Nipur, 150 km ao sul de Bagdá, foi encontrada uma biblioteca sumeriana inteira, contendo cerca de 60.000 placas de barro com inscrições denominadas: cuneiformes. Lâminas de argila sumérias têm informações precisas sobre os planetas do sistema solar. O mais impressionante são os dados sobre Plutão (Planeta que só foi descoberto em 1930!). Eles sabiam o tamanho de Plutão, sua composição química e orgânica e afirmavam que Plutão era na verdade uma lua de outro planeta do Sistema Solar que se "desprendeu" e ganhou uma nova órbita (hipótese que tem sido levantada entre pesquisadores da NASA). Eles chamavam a Lua de pote de chumbo e diziam que seu núcleo era uma 'cabaça' de ferro. Dados que foram confirmados pela NASA, durante o programa Apolo. Como tal conhecimento poderia ser possível há 3.000 anos? Os Sumérios alegavam ter recebido tal conhecimento dos “deuses” que vieram do céu. Segundo eles, esses seres tinham uma expectativa de vida de 20.000 anos, período completamente incompreensível para os nossos padrões, e eram homens gigantes. Esses “deuses” misturaram-se com os humanos, gerando assim novas raças e etnias, conhecidos por eles como os "filhos dos Deuses". Será tudo isso coincidência?
Como a Igreja Primitiva interpretava Gn.6?
Ainda no século II, Justino Mártir atribuía toda maldade aos demônios, que segundo ele, eram os filhos dos anjos que caíram devido à sua cobiça pelas filhas dos homens. Veja o que ele diz em sua Segunda Apologia:
“Eles (Nefilins) subverterem a raça humana por meio de escritos mágicos e do medo que nela instilaram, por meio de punições à humanidade, instruindo os homens no uso de sacrifícios, incenso e libações das quais precisariam depois de se tornarem escravos de suas lascivas paixões. Engendraram assassinatos, guerras, adultérios e todos os tipos de dissipações e todas as espécies de pecado”.[8]
Em sua obra Legatio, escrita em torno de 170 d.C., Atenágoras apresenta os anjos que “violaram a sua natureza e a sua missão”, e ainda comenta o paralelismo entre a verdade das Escrituras, e as versões da Mitologia:
“Os que buscaram mulheres fizeram nascer os chamados gigantes. Não se surpreenda se um registro parcial sobre eles tiver também sido feito pelos poetas. A sabedoria mundana e a sabedoria profética diferem entre si como a verdade da probabilidade – uma é celestial, a outra é terrena (...) Estes anjos, então, que caíram do céu ocuparam-se com o ar e a terra e não mais conseguiram elevar-se até os reinos do céu. As almas dos gigantes são os demônios que vagueiam pelo mundo. Tanto anjos como demônios produzem movimentos [isto é, agitações, vibrações] – demônios produzem movimentos similares às naturezas que receberam, e anjos movimentos similares à luxúria pela qual foram possuídos”.[9]
Tertuliano (160-230 d.C), muito admirado nos círculos teológicos, afirmou:
“Com relação aos detalhes sobre como os anjos, pela sua própria vontade, perverteram-se e constituíram então a fonte da raça corrupta dos demônios, uma raça amaldiçoada por Deus juntamente com seus originadores e aquele que mencionamos como seu líder. O registro destes acontecimentos é encontrado na Sagrada Escritura”.[10]
Tertuliano chega a citar uma prática comum na igreja primitiva, de renunciar na cerimônia de batismo, a influência dos anjos caídos.[11]
Clemente de Alexandria (150-220) fala acerca dos anjos “que renunciaram à beleza de Deus em troca da beleza que se desvanece, caindo assim do céu para a terra”.[12] Na obra conhecida como “As Homilias de Clemente”, lemos que os anjos “modificaram-se, assumindo a natureza de homens” e compartilharam a luxúria humana.[13]
Foi Júlio Africano (200-245 d.C., contemporâneo de Orígenes) que introduziu a teoria de que os “filhos de Deus” seriam os descendentes de Sete, e as filhas dos homens seriam as descendentes de Caim. Ciro de Alexandria também repudiou a posição ortodoxa predominante entre seus contemporâneos. Jerônimo (348-420),Crisóstomo (346-407) também fizeram coro com a nova teoria. Mas foi Agostinho (354-430) quem desferiu o golpe definitivo contra a antiga crença, abraçando a teoria de que os filhos de Deus seriam, de fato, os filhos de Sete. A posição de Agostinho prevaleceu por toda a Idade Média, até os dias de hoje.
Convém salientar os motivos que levaram Agostinho a abolir a crença de que os anjos houvessem caído em luxúria com as mulheres. Durante o tempo de seu ministério, Agostinho teve de enfrentar um grave problema causado pela grande popularidade dos anjos: As pessoas estavam prestando-lhes culto, oferecendo-lhes sacrifícios e orações. A situação já estava fora de controle. Por essa razão, Agostinho procurou reduzir os anjos à forma mais abstrata possível, pregando publicamente:
«Legítimos habitantes das moradas celestes, os espíritos imortais, felizes pela posse do Criador, eternos por sua eternidade, fortes de sua verdade e santos por sua graça, tocados de compulsivo amor por nós, infelizes e mortais, e desejosos de partilhar conosco sua imortalidade e beatitude, não, querem que sacrifiquemos a eles, mas Àquele que sabem ser, como nós, o sacrifício [ou seja, Jesus Cristo]. Porque somos com eles uma só Cidade de Deus.»; «Quanto aos milagres, sejam quais forem, operados pelos anjos ou por qualquer outro modo, se se destinam a glorificar o culto da religião do verdadeiro Deus, princípio único da vida bem aventurada, devem ser atribuídos aos espíritos que nos amam com verdadeira, é preciso acreditar ser o próprio Deus quem neles e por eles opera.»; «... Aquele cuja palavra é espírito, inteligência, eternidade, palavra sem começo e sem fim, palavra ouvida em toda a pureza, não pelos ouvidos do corpo, mas do espírito, por intermédio de seus ministros, enviados que gozam de sua verdade imutável, no seio de eterna beatitude, palavra que lhes comunica de maneira inefável as ordens que devem transmitir à ordem aparente e sensível, ordens que executam sem demora e facilmente.»; «Assim, mostram-nos os anjos fiéis com que sincero amor nos amam; com efeito, não é à sua própria dominação que querem submeter-nos, mas ao poderio daquele que são felizes de contemplar, soberana beatitude a que desejam cheguemos também e de que não se apartam.»[2]
Eis as razões sinceras, porém, equivocadas, que levaram o grande teólogo do IV Século a aderir à teoria da descendência setita.
Vamos analisar cuidadosamente as premissas desta teoria.
De acordo com essa posição, os filhos de Deus são identificados como os filhos de Sete, pelo fato de esses constituírem a boa linhagem de onde viria o Messias. Já a descendência de Caim não tinha temor de Deus, e era conhecida por sua impiedade. Se os filhos de Deus eram os filhos de Sete, e as filhas dos homens eram as filhas de Caim, como a união entre essas duas linhagens pôde produzir gigantes? Não conheço qualquer caso de casais onde o marido é crente e a esposa incrédula que tenha produzido filhos gigantes, ou mesmo, uma descendência maligna. Pelo contrário. O apóstolo Paulo diz que “o marido incrédulo é santificado pela mulher, e a mulher incrédula é santificada pelo marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros, mas agora são santos” (1 Co.7:14).
Quanto à alegação de que a linhagem de Sete era uma “linhagem bondosa” carece de qualquer respaldo bíblico. Se fosse “bondosa” não teria se envolvido com uma “linhagem perversa”, como a de Caim. Nunca houve, nem haverá entre os humanos uma linhagem bondosa. O que houve foi uma “linhagem messiânica”, pela qual veio o Messias. Entretanto, essa “linhagem” é bem “maldosa”, se quisermos ser honesto com o relato bíblico. Não é à toa que encontramos a árvore genealógica de Jesus em Mateus e em Lucas. Em Sua linhagem encontramos de tudo. Desde Judá, um fornicário (Gn.38), passando por Perez, filho ilegítimo, Raabe, prostituta, Bateseba, adúltera (Mt.1:1-6), e algumas outras figuras, no mínimo, controversas.
Embora tenha vindo de uma linhagem de pecadores, Jesus nasceu sem pecado, pois Seu DNA foi produzido pelo Espírito Santo, no ventre de uma virgem chamada Maria. De Maria, Deus aproveitou o cromossomo X, puro, sem a contaminação dos genes angélicos. Do Espírito Santo veio o cromossomo Y, que gerou o corpo no qual Deus habitou entre nós.
O principal argumento contra o envolvimento sexual entre os anjos e as mulheres é tirado de uma passagem neo-testamentária, em que Jesus afirma que no céu todos seremos como os anjos, que não se casam, nem se dão em casamento. Concluiu-se, daí, que os anjos são seres assexuados, e que, portanto, não poderiam ter coabitado com as mulheres, nem tampouco lhe dado filhos.
Mas basta um exame mais acurado do texto (Mt.22:30), e veremos o que realmente Jesus quis dizer. Ele disse: “Na ressurreição nem se casam nem são dados em casamento; serão os anjos de Deus no céu”. Repare o detalhe “no céu”. De fato, no céu, os anjos são seres espirituais, que não podem se casar, ou manter qualquer tipo de atividade sexual. Entretanto, somos informados por Judas que esses anjos “deixaram a sua própria habitação” (Jd.6). Ao descer à terra, eles assumiram corpos físicos, bem semelhantes aos dos seres humanos.
A bem da verdade, não existe um anjo nas Escrituras que seja assexuado. De Gênesis a Apocalipse, os anjos se apresentam como “varões”[14]. De acordo com os relatos bíblicos, os anjos aparecem, na maioria das vezes, como homens de carne e osso, podendo ser tocados por mãos humanas; comem o mesmo alimento dos homens, e são capazes de combate físico direto, como no caso ocorrido com Jacó. O escritor de Hebreus chega a afirmar que muitos, sem se darem conta, “hospedaram anjos” (Hb.12:2).
Em Gênesis 18, encontramos três anjos enviados por Deus a Abraão. Eles, não apenas foram recebidos com honra pelo patriarca, como também participaram de um verdadeiro banquete. Bezerro assado, pão, coalhada, leite, foram algumas das iguarias que “eles comeram” (Gn.18:8).
Alguém poderá alegar: Entre comer e ter relações sexuais há uma grande distância.
De fato, os anjos são espíritos, mas que possuem também uma estrutura “carnal”. Ainda que seja “outra carne”, conforme lemos em Judas 7. Neste texto, Judas relata o que aconteceu em “Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas que, havendo-se prostituído como aqueles (anjos), e ido após outra carne (a dos anjos), foram postas como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno” (Jd.7).
Que cidades circunvizinhas eram essas? As que Josué, mais tarde, teve que destruir. Somos levados a crer que houve outras incursões de anjos caídos no mundo após o Dilúvio. Segundo Enoque, foram duzentos o números dos anjos que tiveram relações com as mulheres. Esses foram aprisionados, e aguardam o dia do Juízo. Entretanto, Satanás seduziu a terça parte das hostes celestiais. Alguns desses anjos desceram à Terra para dar continuidade à sua prole maldita, e ao seu intento de impedir a conclusão do plano de Deus.
Enoque parece fazer alusão a isso no capítulo 85, versos 2 e 4 do seu Livro:
“E ví uma estrela caiu do céu (...) Novamente eu vi em minha visão, e examinei o céu; então vi muitas estrelas descendo, e projetando-se do céu para onde a primeira estrela estava.”
Na sequência do texto, Enoque diz, por meio de uma parábola, que tais “estrelas”, que vieram em uma segunda incursão, foram as responsáveis pela contaminação de algumas civilizações que habitavam a Terra., chamadas ali de elefantes, camelos e asnos. Tais povos teriam sido engendrados por essas criaturas celestiais.
Uma outra passagem parece lançar luz sobre esse fato é Deuteronômio 32:8. Ali, no cântico de Moisés, lemos:
“Quando o Altíssimo repartia as nações, quando espalhava os filhos de Adão ele fixou fronteiras para os povos, conforme o número dos filhos de Deus”[15]
Outra passagem que corrobora com essa está em Deuteronômio 4:19, onde Moisés adverte o povo de Israel: “E não levantes os teus olhos aos céus e vejas o sol, e a lua, e as estrelas, todo o exército dos céus, e sejas impelido a que te inclines perante eles, e sirvas àqueles que o Senhor, teu Deus, repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus”.
Fica claro que o próprio Deus distribui as nações, submetendo-as aos Anjos Guardiões (Também chamados de Sentinelas ou Vigilantes). Afinal, Adão havia entregado o mundo a Satanás. Nada mais natural que as nações fossem repartidas entre seus anjos aliados. E isso foi feito com o consentimento de Deus. Por isso, cada nação servia a seus próprios deuses. Baal, Asterote, Dagon e outros ídolos, nada mais eram que seres angelicais, aos quais as nações foram submetidas. O verso 9, porém, diz: “Mas a parte do Senhor foi o seu povo, o lote da sua herança foi Jacó”.
Através de Israel, Deus preservaria uma linhagem santa, que não se macularia com a semente dos Nefilins, para trazer ao mundo o Redentor da Humanidade. Era por isso que os filhos de Israel não podiam se misturar com os habitantes daquelas nações. Todas elas estavam contaminadas pela semente maligna.
É provável que aqueles povos já estivessem familiarizados com a visita dos “deuses”. Foi por isso que os moradores de Sodoma quiseram agarrar à força os anjos que Deus havia enviado a Ló, para tirá-lo de lá, juntamente com a sua família.[16] Eles só não podiam supor que aqueles anjos não eram Nefilins, mas anjos enviados por Deus para trazer juízo àquelas cidades.
Até entre os gregos e romanos contemporâneos dos apóstolos, havia a crença de que os deuses desciam entre os homens, na semelhança humana. Em Atos encontramos a curiosa narrativa de um episódio em que as multidões acreditaram que Paulo e Barnabé eram Júpiter e Mercúrio, deuses da mitologia romana que os estavam visitando. As multidões clamavam: “Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens, e desceram até nós” (At.14:11b). Chegaram a ponto de trazerem touros para serem sacrificados a eles. Os apóstolos tiveram que reagir energicamente para dissuadi-los: “Porém, ouvindo isto os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgaram as suas vestes, e saltaram para o meio da multidão, clamando: Senhores, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há, o qual nos tempos passados deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos. Contudo, não deixou de dar testemunho de si mesmo” (vv.14-17a). Repare que eles chamam os deuses das nações de “vaidade”.
Devemos atentar mais uma vez para o que diz Gênesis 6. O texto diz que havia Nefilins naqueles dias, e também depois deles. Quando Moisés escreveu este relato, a Terra estava infestada de gigantes, uma raça híbrida, fruto da mistura entre anjos e humanos.
Entre as tribos que habitavam Canaã, a Terra Prometida, estavam os Refains, Emins, Horins, Zanzumins, que eram gigantes. O reino de Ogue, rei de Basã, era uma verdadeira “terra dos gigantes”. Mais adiante encontramos Arba, Anaque e seus sete filhos (Anaquins), que também eram gigantes. Sem nos esquecer de Golias e seus quatro irmãos.
Quando Deus revelou a Abraão que a Terra de Canaã lhe seria dada por herança, Satanás teve cerca de 400 anos para plantar ali a semente nefasta dos Nefilins.
Isso nos remete à parábola do joio e do trigo. Jesus conta que “o reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo. Mas enquanto os homens dormiam, veio o seu inimigo, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se” (Mt.13:24-25). Jesus explica que “o campo é o mundo, e a boa semente são os filhos do reino. O joio são os filhos do maligno, e o inimigo que o semeou é o diabo” (v.38).
O destino do joio já está traçado: “Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa pecado, e todos os que cometem iniquidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo, onde haverá pranto e ranger de dentes” (vv.40-42). Repare nisso: Deus eliminará de Seu reino “tudo o que causa pecado” e “todos os que cometem iniquidade”. Creio que “tudo o que causa pecado” seja uma alusão aos demônios, aos Nefilins, cujo objetivo é instigar os homens a pecar. Entretanto, os homens não ficarão impunes. Todos os que cometem iniquidade serão exterminados para sempre.
Na mesma passagem em que Isaías relata a queda do Querubim rebelde, lemos a sentença lavrada por Deus contra a descendência dos Nefilins: “A descendência dos malignos não será nomeada para sempre. Preparai a matança para os filhos por causa dos pais, para que não se levantem e possuam a terra, e encham o mundo de cidades” (Is.14:20b-21). Aquela prole amaldiçoada tinha que ser exterminada, para que não trouxesse males ainda maiores à humanidade.
Ao enviar seus doze espias à terra de Canaã, Moisés ordenou que eles sondassem a população que havia naquela região. Ao retornarem de sua missão, os espias relataram que viram gigantes na terra (o termo usado em hebraico é Nefilim).
Quando, finalmente, Israel estava prestes a entrar em Canaã, depois de perambular pelo deserto por cerca de 40 anos, Josué foi instruído por Deus a destruir completamente os morados daquelas cidades, não poupando nem mesmo mulheres e crianças.
Satanás semeou ali o seu joio, para impedir que a semente de Abraão, de onde viria o Messias, se estendesse por toda aquela região.
O livro de Números relata a presença dos Nefilins em Canaã, muito depois do Dilúvio. Depois de vagar por 40 anos no deserto, os filhos de Israel deram uma parada em Cades, que era uma espécie de Oásis no norte do Sinai. Foi dali que Moisés enviou os doze espiais à Terra Prometida. O texto diz:
“Quando Moisés os enviou para explorar a terra de Canaã, disse-lhes: Subi ao Neguebe, e escalai as montanhas. Vede como é a terra, e o povo que nela habita, se é forte ou fraco, se são poucos ou muitos. Como é a terra em que habita? É boa ou má? Como são as cidades em que vivem? São abertas ou fortificadas? Como é o solo? É fértil ou estéril? Tem matas ou não? Esforçai-vos, e trazei do produto da terra...” Números 13:17-20
Depois de 40 dias, os espias retornaram com o seguinte relatório:
“Fomos à terra a que nos enviaste. Ela verdadeiramente mana leite e mel! Este é o seu fruto. Mas o povo que habita nessa terra é poderoso, e as cidades fortificadas e muito grandes. Também vimos ali os filhos de Enaque (gigantes).” Números 13:27-28
Quando o povo já demonstrava desânimo com o relatório dos espiais, Calebe tomou a palavra e disse: “Subamos animosamente, e possuamo-la em herança, pois certamente prevaleceremos contra ela. Porém os homens que com ele subiram disseram: Não poderemos atacar aquele povo; é mais forte do que nós. E diante dos filhos de Israel infamaram a terra que tinham explorado, dizendo: A terra, pelo meio do qual passamos a espiar, é terra que devora os seus moradores. Todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes (pois os descendentes de Enoque são de raça gigante), e éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos, e assim também lhes parecíamos” (Nm.13:30-33).
Por causa do receio dos filhos de Israel em enfrentar os Nefilins, toda aquela geração foi reprovada por Deus, ficando prostrado no deserto, ao longo de quarenta anos de peregrinação. Daquela geração que saíra do Egito, somente dois, Josué e Calebe, adentraram a terra prometida.
Quarenta e cinco anos depois deste episódio, quando Calebe recebeu de Josué a sua parte da herança, teve que enfrentar os Enaquins (Nefilins), e expulsá-los do monte Hebrom (Js.14:12-15).
A ordem de Deus não poderia ser atenuada. Sua instrução foi clara:
“Ouve, ó Israel! Hoje passarás o Jordão para entrares a possuir nações maiores e mais fortes do que tu, cidades grandes e muradas até o céu. O povo é grande e alto, filhos dos Enaquins, que tu conheces e de quem já ouvistes dizer: Quem poderá enfrentar os filhos de Enaque? Sabe, porém, hoje, que é o Senhor teu Deus que passa adiante de ti, como um fogo consumidor. Ele os destruirá e os derrubará diante de ti, e tu cedo os expulsarás e os desfarás, como o Senhor te prometeu. Quando o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não digas em teu coração: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir. Antes, é pela impiedade destas nações que o Senhor as expulsa de diante de ti (...) e para confirmar a palavra que o Senhor teu Deus jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.” Deuteronômio 9:1-4,5b
Em Deuteronômio, os gigantes Enaquins (descendentes dos Nefilins) também são conhecidos como Rafains (Deut.2:11). Entre os mais conhecidos Rafains está o rei Ogue, de Basã. De acordo com Deuteronômio, a enorme cama de ferro[17] de Ogue ainda podia ser vista em Rabá (Deut.3:11).
Segundo a Bíblia, tanto os Refains quanto os Enaquins foram exterminados por Moisés (Js.12:4-6), Josué (Js.11:21-22) e Calebe (Js.15:14; Jz.1:20), ainda que restassem alguns desgarrados, que acabaram mortos por Davi e seus homens (2 Sm.21:18-22; 1 Cro.20:4-8).
Embora os gigantes tenham sido erradicados da Terra, fomos comissionados por Cristo a expulsar os demônios, na autoridade do Nome de Jesus. Portanto, a luta continua. Mas a vitória é garantida “pelo sangue do Cordeiro” e pela palavra de nosso testemunho (Ap.12:11).
Paulo fala que nossa luta não é contra carne nem o sangue, mas contra os principados, as potestades, os poderes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes. De Gênesis 6 até os dias de Davi, o povo escolhido por Deus teve que lutar contra inimigos de carne e sangue. Aqueles mesmos inimigos estão em guerra contra o povo de Deus hoje. A diferença é que já não são carne e sangue, mas seres espirituais. Quando Paulo fala de “poderes deste mundo tenebroso”, está se referindo aos demônios, que trabalham por trás das estruturas injustas que buscam cativar os seres humanos. Já “os principados, as potestades, e as forças espirituais da maldade nas regiões celestes” dizem respeito àqueles anjos que se rebelaram contra Deus, e hoje atuam sob a orientação do “príncipe das potestades aéreas”.
[1] Livro dos Jubileus 4:15[2] Um exemplo de longevidade é Matusalém que viveu 969 anos. O próprio Adão viveu 930 anos![3] Mais tarde Deus estabeleceu que o homem deveria viver em média 70 anos.[4] A terça parte dos anjos, que participaram da rebelião promovida pelo Querubim Helel ben-shahar (Lúcifer).[5] De acordo com Luther Link, «até o século IV, Enoque fazia parte do ainda mal definido cânone»; «Familiar para os judeus e primeiros cristãos, Enoque foi um texto sagrado autêntico para Judas, Clemente, Barnabé, Tertuliano e outros primeiros pais» (embora Jerônimo e Orígenes fizessem ressalvas).[6] Monumento megalíticos – Monumentos feitos com grandes pedras, que pesam toneladas. Ainda é um mistério para a ciência, a maneira como tais pedras foram transportadas. Um exemplo disso são as famosas estátuas da Ilha de Páscoa, que fica a milhares de quilômetros do continente, no meio do Oceano Pacífico.[7] É por ser oriundo de uma linhagem pura, que não fora poluída pela semente dos Nefilins, que Jesus é chamado “Filho do Homem”.[8] Mártir, Justino, “The Second Apology”, Writings of Saint Justin Martyr, traduzido por Thomas B. Falls (N.York: New York Christian Heritage, 1948), p.124.[9] Atenágoras, “Legatio”, ed. e trad. William R. Schoedel, Oxford Early Christian Texts: Legatio and De Resurreictione(Oxford: Clarendon Press, 1972(, p.61.[10] Tertuliano, “Apology”, Apologetical Works, Fathers of the Church, 69 vols. Até esta data (Washington, D.C.: Catholic University os America PRESS, 1947-), 10 (1950): 69.[11] Tertuliano, “The Apparel of Women”, Disciplinary, Moral, anda Ascetical Works, Fathers of the Church, 40:118-20.[12] Clemente, “The Instrutor”, Ante-Nicene Fathers, 2:274.[13] The Clementine Homilies, Ante-Nicene Fathers, 8:272-73[14] Ver Apocalipse 21:17; Gálatas 4:14; Atos 1:10; Juízes 13: 3-21; Daniel 9; Gênesis 19:10-15, Hebreus 13[15] Há traduções que trazem “filhos de Israel” em vez de “filhos de Deus” (bene ha-Elohim). Está comprovado através da descoberta de um texto fragmentário entre os Manuscritos do Mar Morto que continha o Deuteronômio 32:8. composto em escrita do final do período herodiano (fim do século I a.C. ao início do século 1 d.C.), que as últimas palavras do versículo são claramente bene ha-Elohim (filhos de Deus = anjos). Esse fragmento é hoje o mais antigo texto hebraico do Deuteronômio 32:8 conhecido. Essa redação foi preservada na Septuaginta Grega, que traduziu como “aggelon theou” (anjos de Deus).[16] Convém salientar que esses anjos também comeram de um banquete preparado por Ló. Ver Gn.19:3[17] A cama de Ogue tinha cerca de 4m de cumprimento e 2m de largura.[1] Waisbard, Simone, Tiahuanaco, Ed. Hemus[2] Agostinho, Santo, De Civitate Dei, X.
Nefilins na Era Apostólica
O que vamos expor aqui poderá suscitar muitas discussões.
Antes de tudo, devo confessar que nossa posição escatológica é pós-milenista. O que significa dizer que cremos que o Milênio de que fala o livro de Apocalipse já está em andamento, desde que Jesus foi assunto ao céu, e que a boa parte das profecias encontradas naquele livro já foram cumpridas. Cremos também o sermão profético encontrado em Mateus 24 e em Lucas 17 e 21 foi cumprido ainda naquela geração, conforme previu Jesus. Nessas passagens, Jesus não estava falando sobre Seu retorno glorioso à Terra, como muitos interpretam, e sim sobre Sua vinda em juízo sobre Jerusalém.
No que concerne ao assunto que temos explorado neste estudo, o que chama nossa atenção no sermão profético de Jesus é o texto que diz:
“Como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do Homem. Comiam, bebia, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e consumiu a todos. A mesma coisa aconteceu nos dias de Ló. Comiam, bebiam, comprovam, vendiam, plantavam e edificavam. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a todos” (Lc. 17:26-29).
É claro que os discípulos estavam familiarizados com textos como os de Enoque, que relatavam com detalhes o que acontecia nos dias de Noé, e também nos dias de Ló. Eles sabiam exatamente do que Jesus estava falando. Por isso, o Mestre não Se preocupou em dar detalhes.
Antes de tudo, devo confessar que nossa posição escatológica é pós-milenista. O que significa dizer que cremos que o Milênio de que fala o livro de Apocalipse já está em andamento, desde que Jesus foi assunto ao céu, e que a boa parte das profecias encontradas naquele livro já foram cumpridas. Cremos também o sermão profético encontrado em Mateus 24 e em Lucas 17 e 21 foi cumprido ainda naquela geração, conforme previu Jesus. Nessas passagens, Jesus não estava falando sobre Seu retorno glorioso à Terra, como muitos interpretam, e sim sobre Sua vinda em juízo sobre Jerusalém.
No que concerne ao assunto que temos explorado neste estudo, o que chama nossa atenção no sermão profético de Jesus é o texto que diz:
“Como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do Homem. Comiam, bebia, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e consumiu a todos. A mesma coisa aconteceu nos dias de Ló. Comiam, bebiam, comprovam, vendiam, plantavam e edificavam. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a todos” (Lc. 17:26-29).
É claro que os discípulos estavam familiarizados com textos como os de Enoque, que relatavam com detalhes o que acontecia nos dias de Noé, e também nos dias de Ló. Eles sabiam exatamente do que Jesus estava falando. Por isso, o Mestre não Se preocupou em dar detalhes.
O que tem de extraordinário no fato dos contemporâneos de Noé comerem, beberem, casarem-se, darem-se em casamento? Absolutamente nada. A menos que tais coisas estivessem sendo protagonizadas por outros seres, além dos humanos. Pois é disso que fala Gênesis 6.
O capítulo que narrava o prenúncio do Dilúvio, começa narrando o casamento entre anjos e mulheres. Nos dias de Ló aconteceram coisas semelhantes. A ponto de Ló ter que intervir no assédio sexual sofrido pelos anjos que visitavam sua cidade, anunciando o juízo iminente. Esse texto nos informa que tais anjos misturaram-se de tal maneira à raça humana, que já participavam de todas as atividades cotidianas deles, como comprar, vender, edificar. Não será isso uma resposta ao mistério que envolve grandes construções do passado, como as pirâmides?
As predições de Cristo apontavam para um futuro bem próximo. Tanto que Ele mesmo garantiu:
As predições de Cristo apontavam para um futuro bem próximo. Tanto que Ele mesmo garantiu:
“Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam” (Mt.24:34).
No ano 70 d.C., Jerusalém sucumbiu sob a investida de Tito, general Romano, filho do Imperador Vespasiano, que mais tarde tornou-se seu sucessor. Os discípulos de Jesus só escaparam por terem atendido ao apelo de Cristo, de fugirem ao menor sinal de que estava próximo o juízo de Deus sobre Israel. “Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabereis que é chegada a sua desolação. Então os que estiverem na Judéia, fujam para os montes, os que estiverem no meio da cidade, saiam, e os que estiverem nos campos, não entrem nela. Pois dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas” (Lc.21:20-22).
Naqueles dias, a Igreja de Cristo sofreu o assédio dos Nefilins.
Foram tempos semelhantes aos dias de Noé e de Ló. Os Nefilins se introduziram no seio da igreja como “falsos profetas”, introduzindo “encobertamente heresias destruidoras”. “Para eles”, afirma Pedro, “o juízo lavrado há longo tempo não tarda,e a sua destruição não dorme. Pois se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo; se não poupou o mundo antigo, embora preservasse a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios; se condenou à destruição as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinza, e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente; e se livrou o justo Ló, atribulado pela vida dissoluta daqueles perversos (...) assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar os injustos para o dia do juízo, para serem castigados. Deus castigará especialmente aqueles que segundo a caRne andam em imundas concupiscências, e desprezam as autoridades. Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades, enquanto que os anjos, embora maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor. Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção. Receberão a paga da injustiça. Tais homens têm prazer na luxúria à luz do dia. São nódeas e máculas, deleitando-se em suas mistificações, quando se banqueteiam convosco. Têm olhos cheios de adultério, e são insaciáveis no pecado; engodam as almas inconstantes; têm um coração exercitado na ganância, são filhos da maldição! (...) Estão são fontes sem água, névoas impelidas pela tempestade, para os quais está reservada a escuridão das trevas eternamente” (2 Pe.2:1-17).
A conexão entre o que Jesus falou sobre os dias de Noé e de Ló e o que Pedro está dizendo em sua epístola é óbvia. Tanto para Pedro, quanto para os demais apóstolos, aqueles eram os últimos dias de que Jesus havia falado. Não os últimos dias do planeta Terra, mas os últimos dias de Israel como povo de Deus.
Temos fortes razões pra acreditar que houve infiltração dos anjos caídos no seio da Igreja. São eles que Pedro chama de “filhos da maldição”. Por isso Paulo advertiu: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja anátema” (Gl.1:8). Paulo manifesta sua preocupação também aos coríntios: “Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo. Pois se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, de boa mente o suportais (...) E não é de admirar, pois o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transformem em ministros da justiça” (2 Co.11:3-4,14-15a).
Qual seria mais fácil para Satanás, transfigurar-se em anjo de luz, ou fazer com que seus ministros (anjos caídos) se transfigurassem em ministros de Deus? Convém lembrar a definição que Hebreus dá para os anjos de Deus: “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor dos que hão de herdar a salvação?” (Hb.1:14).
Na última hora, porém, esses ministros de araque se revelaram. João fala sobre isso:
“Filhinhos, esta é a última hora; e como ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos têm surgido, pelo que conhecemos que é a última hora. Saíram de nosso meio, mas não eram dos nossos. Pois se tivessem sido dos nossos, teriam ficado conosco; mas isto é para que se manifeste que nenhum deles é dos nossos” (1 Jo.2:18-19).
Eles não apenas se infiltraram na igreja, como também estavam “casando-se” e “dando-se em casamento”. Razão pela qual Paulo exortou aos crentes a que não se pusessem em jugo desigual com os infiéis (2 Co.6:14).
Talvez, tenha sido devido à infiltração dos anjos no seio da Igreja, que Paulo advertiu que as mulheres cobrissem suas cabeças com véu. Tertuliano interpretou isso como uma maneira de não tentar os anjos (1 Co.11:10).
Paulo se viu obrigado a combater o culto que muitos estavam prestando inadvertidamente aos anjos (Col.2:18).
Eram, como havia previsto Jesus, dias como os de Noé e Ló. Assim como no início, anjos caídos estavam tentando poluir a nova humanidade com sua semente maligna. Judas os denuncia:
“Pois certos homens se introduziram com dissimulação, os quais desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo (...) E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões eternas, na escuridão, para o juízo do grande dia. Assim também Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas que, havendo-se prostituído como aqueles, e ido após outra carne, foram postas como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. Contudo, smelhantemente estes falsos mestres, sonhando, contaminam a sua carne, rejeitam toda a autoridade, e blasfemam das dignidades (...) Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco sem nenhum recato; pastores que se apascentam a si mesmos. São nuvens sem água, levadas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidos e desarraigadas, duplamente mortas. São ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido eternamente reservada a escuridão das trevas. Concernentes a estes profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão: Vede, o Senhor vem com milhares de seus santos, para fazer juízo contra todos, e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram, e de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram. Estes são murmuradores, queixosos, andando segundo as suas concupiscências, cuja boca diz coisas muito arrogantes, bajulando as pessoas por motivos interesseiros. (...) São estes que causam divisões; são sensuais, e não têm o Espírito” (Jd.4-8,12-16,19).
Judas cita o Livro de Enoque, conferindo-lhe status de Escrituras. Ele diz que Enoque profetiza concernentes àqueles de quem acabara de escrever. No texto original de Enoque, capítulo II lemos: “Eis. Eis que Ele chega com dez mil de seus santos, para julgar todas as criaturas, para destruir a raça dos maus, e reprovar toda carne pelos crimes que o pecador e o ímpio cometeram contra Ele”. O que em nossa Bíblia foi traduzido como “todos os ímpios”, o texto em que está baseado o texto de Judas diz “raça dos maus”, um clara alusão aos Nefilins.
Outro paralelo interessante, é o fato de Judas referir-se a esses falsos mestre como “nuvens sem água”. Enoque diz que “os espíritos dos gigantes serão como as nuvens que trazem à terra os flagelos de toda espécie, a pese, a guerra, a fome” (Cap.14:9).
Em Enoque os Nefilins aparecem como “estrelas” “que transgrediram os mandamentos do Altíssimo Deus” (20:3). Judas os chama de “estrelas errantes”.
Tanto Judas, quanto Pedro apresentam paralelos incríveis entre os fatos ocorridos em seu tempo, e as predições feitas por Cristo, traçando conexões com os dias de Noé e Ló.
Até Pedro foi confundido com um anjo, ao ser solto da prisão, e apresentar-se onde a igreja estava reunida.
Retomando as predições de Jesus, lemos: “Digo-vos que naquela noite (momento de trevas), estarão dois numa cama; um será tomado, e o outro será deixado. Duas estarão juntas, moendo; uma será tomada, e a outra será deixada. Dois estarão no campo; um será tomado,e o outro será deixado” (Lc.17:34-36). Essa passagem tem sido mal interpretada por aqueles que acreditam que ela trate do ‘arrebatamento’ da igreja. Lembre-se que tudo quanto Jesus predisse, deveria ocorrer ainda naquela geração (num prazo de 40 anos!). A grande apostasia na igreja, a grande tribulação, a vinda de Cristo em juízo sobre Israel, foram fatos ocorridos ainda naqueles dias. Quando falamos em “vinda” de Cristo, estamos nos referindo à manifestação de Seu juízo.Então, o que esse texto quer dizer com “duas estarão juntas, moendo; uma será tomada, e a outra será deixada”?
A Igreja de Cristo emerge no meio de um cenário caótico.
Os judeus, contemporâneos de Jesus, haviam se associado ao poder romano, submetendo-se cegamente a César, e ao rei edomita que ele nomeou para a Judéia, a saber, Herodes.
Entre os muitos atributos dados por João Batista e principalmente por Jesus àquela geração, estavam: raça de víboras (Mt.3:7; 12:32; 23:33), geração má e adúltera (Mt.12:39), geração incrédula e perversa (Mt.17:17), geração maligna (Lc.11:29); e por Paulo: geração corrompida (Fp.2:15).
O poço do abismo foi aberto sobre aquela geração. Ela tornou-se numa geração possessa de demônios. Os Nefilins se apoderaram de sua última fronteira: os filhos de Israel. Invadiram a herança do Senhor.
Essa possessão, embora fosse bem diferente dos “casamentos” ocorridos durante os dias de Noé, representou uma espécie de adultério espiritual, que produziu verdadeiros “filhos do diabo” (Jo.8:44). A religião judaica tornou-se “sinagoga de Satanás” (Ap.3:9). Fariseus e Saduceus eram como os dois chifres da besta que emergiu da terra (Ap.13:11).
Jesus asseverou: “Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas. Pois como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra. Os ninivitas ressurgirão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se arrependeram com a pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas. A rainha do Sul se levantará no dia do juízo com esta geração, e a condenará; pois veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior do que Salomão. Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos buscando repouso, mas não o encontra. Então diz: Voltarei para minha casa de onde saí. E, voltando acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espírito piores do que ele e, entrando, habitam ali. E são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má” (Mt.12:39-45).
Durante o ministério terreno de Jesus, a casa foi arrumada. Demônios foram expelidos. Pessoas foram libertas de sua atuação. Mas quando Israel rejeitou o Messias, aqueles mesmos demônios, que se organizavam em legiões, retornaram com força total.
Como Jesus havia predito, Jerusalém, a cidade adúltera, chamada em Apocalipse de “a grande Babilônia”, tornou-se “morada de demônios, e guarida de todo espírito imundo” (Ap.18:2).
Aquela geração era fruto do adultério entre Israel e as nações da Terra (Ez.23:14-21,,29-30,35). O profeta Oséias chega a dizer que “o espírito da prostituição está no meio deles, e não conhecem ao Senhor (...) Foram infiéis ao Senhor; geraram filhos bastardos (...) Não te alegres, ó Israel, até saltar, como os outros povos. Porque te foste do teu Deus como uma meretriz” (Os.5:4,7; 9:1).
Foi nesse cenário que a igreja de Cristo emergiu, como “filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração perversa” (Fp.2:15).
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